O arcebispo metropolitano de Porto Alegre e vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Jaime Spengler, conversou com o Gaúcha Atualidade nesta quinta-feira (22) sobre o posicionamento do papa Francisco em defesa da união civil entre homossexuais.
Apesar de não ser novidade a colocação do pontífice, o assunto ganhou repercussão diante de uma declaração feita por ele no documentário Francesco, que entrou em cartaz na quarta-feira (21), na Itália. Na obra, Papa defende que "as pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deverá ser descartado ou ser infeliz por isso".
— Essas pessoas são sujeitos de direitos e deveres. Claro, têm direito também de proteção social. Neste sentido, não vejo nada demais na expressão do Santo Padre. Óbvio, evidente que tais pessoas têm direito de estar, sim, numa família. Por quê? Porque são pessoas humanas, e como humanas, a partir da experiência da fé, são filhos de Deus. São nossos irmãos. Como filhos de Deus, merecem respeito e cuidado — analisou Dom Jaime Spengler.
As declarações do papa Francisco representam um ponto de virada em relação ao posicionamento de seus antecessores, incluindo o papa emérito Bento XVI, recluso no Vaticano. Mas ainda estão longe de representarem uma mudança interna nas políticas da Igreja.
– O matrimônio como tal a Igreja fala para os seus é sempre entre um homem e uma mulher. Este é o termo preciso. A união de pessoas do mesmo sexo é civil.
Dom Jaime Spengler pontua que o tema sobre direitos de homossexuais "é uma questão complexa, que precisa de sensibilidade humana". Para ele, "em alguns períodos da história se condenou com facilidade demais".
— É muito fácil, talvez a mais, esta (decisão) de descartar. Já somos marcados por tantos descartes. Como cristãos, (precisamos) sempre buscar incluir — enfatizou.
O documentário Francesco, de duas horas de duração, percorre os sete anos de pontificado e suas viagens com depoimentos e entrevistas. Entre os momentos mais emocionantes do filme, o Papa faz uma ligação para um casal homossexual, com três filhos pequenos, em resposta a uma carta que recebeu deles na qual contam a vergonha que sentem por levar seus filhos à paróquia.