O brasileiro tem dedicado uma fatia maior do orçamento para despesas com educação, saúde, higiene e cuidados pessoais, recreação e cultura e telefone celular. Pela primeira vez, a despesa com transporte ultrapassou a parcela destinada à alimentação. É o que mostram os primeiros resultados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2017-2018, divulgados nesta sexta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A pesquisa mostra ainda que, na última década, as famílias brasileiras perderam a capacidade de investimento e destinaram parcela maior do orçamento para o pagamento de dívidas. A POF é utilizada para definir o cálculo da inflação no país. Para isso, traça um retrato dos hábitos de consumo dos brasileiros. A última edição foi realizada nos anos de 2008 e 2009. O levantamento atual foi realizado de junho de 2017 a julho de 2018, em 57.920 domicílios.
A despesa média das famílias brasileiras é de R$ 4.649,03. Desse total, 92,7% são destinados a despesas correntes, com moradia, transporte, educação e consumo, percentual praticamente estável em relação à pesquisa anterior.
A parcela destinada ao pagamento de dívidas cresceu de 2,1% para 3,2%, puxada pela quitação de empréstimos, que subiu de 1,4% para 2,4%. Já a fatia para aumento do ativo, ou investimentos, caiu de 5,8% para 4,1%, com menos espaço para gastos em aquisição de imóveis e reformas.
— As famílias estão gastando muito com manutenção e ficando com menos dinheiro para fazer investimento — comenta o gerente da pesquisa, André Martins. O resultado mostra interrupção de movimento de alta no investimento captada pelo levantamento anterior.
Entre as despesas correntes de maior peso no orçamento, houve queda das fatias destinadas a alimentação (-1,9 ponto percentual) e transporte (-1,4 ponto percentual), que representaram, respectivamente, 14,2% e 14,6% do orçamento. A parcela da habitação, a maior delas, ficou praticamente estável, em 29,6%.
A despesa com transporte ultrapassou pela primeira vez a parcela destinada à alimentação. Para Martins, é uma tendência natural quando há aumento da renda. Historicamente, os levantamentos do IBGE mostram que o gasto com alimentação tem caído, as despesas com habitação e transportes apresentam ligeira estabilidade, enquanto as áreas de saúde e educação ganham relevância no orçamento familiar.
A fatia destinada ao gasto com educação cresceu 52%, passando de 2,5% para 3,8% do orçamento familiar. Destaca-se o aumento da parcela com cursos regulares e superiores, de 1,4% para 2,2%. Os gastos com saúde passaram de 5,9% para 6,5%. A pesquisa mostra que a fatia destinada a despesas com celulares e acessórios cresceu 200%, para 0,9% do orçamento das famílias. Planos de assinatura de TV a cabo e internet também passaram a ter parcela maior, de 1,1%, alta de 83,3%.
A fatia do orçamento destinada a higiene e cuidados pessoais, que já havia mostrado alta na pesquisa anterior, subiu 52,63%, para 2,9%. Nesse item, dobrou a parcela usada para comprar sabonetes e produtos para cabelo, por exemplo. Para recreação e cultura, a parcela destina subiu de 1,6% para 2,1%.