O tempo chuvoso e frio não espantou os mais de 120 para atletas do Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete), em Porto Alegre, nesta sexta-feira (4). Ali, 27 delegações, de 66 escolas das redes pública e privada do Estado, disputavam o Sétimo Campeonato Paradesportivo Estudantil do Rio Grande do Sul (Paracergs), que é fase anterior às Paralimpíadas Escolares, que ocorrerão em novembro, em São Paulo.
Apesar do chuvisco que caía na pista de atletismo, o multi-atleta Vinícius Borges, 13 anos, que apresenta um problema cognitivo, não se sentiu intimidado. Vestiu as sapatilhas de corrida e enfrentou os 800 metros que havia pela frente. Representante da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vinte e Oito de Fevereiro, de Marau, ele conta que sempre gostou de praticar esporte e que está feliz com o resultado alcançado:
— Em 2018, eu fiquei em segundo lugar nessa mesma competição. Agora, conquistei a primeira posição. Acredito que tenha sido resultado dos últimos meses de treino — disse o garoto que teve que interromper a entrevista para participar da competição de salto em distância, que estava prestes a começar.
Já na parte interna do Cete, acontecia o aquecimento para a competição de bocha. Guilherme Modesto, 16 anos, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Ruth Raymundo, de Sapiranga, apresenta severo grau de comprometimento motor. Por isso, as partidas são jogadas com o auxílio do treinador Pedro Paz, 44 anos. O técnico muda a altura da queda da bolinha, em uma espécie de catapulta. Assim, sua velocidade fica mais rápida ou lenta, explica Paz.
— Contudo, fica sob a responsabilidade de Guilherme indicar, em uma tabela adaptada que criamos, se ele deseja que a próxima jogada seja mais para a esquerda, para a direita, forte ou fraca, bem como a numeração da bola que quer usar. Ele indica com o dedo a jogada a ser feita, eu faço os ajustes necessários e ele joga a bola — diz o treinador.
Para o secretário do Esporte e Lazer, João Derly, os resultados obtidos com a prática esportiva vão além da conquista de uma medalha, significam uma lição de vida.
— É muito maior do que o esporte em si, para os PCDs (pessoas com deficiência) acidentados se torna uma nova razão de vida e para os que nasceram PCDs significa uma oportunidade de vivenciar experiências em conjunto e conhecer novas pessoas — afirma Derly.
Foi essa virada que o esporte deu na vida de Derick Moura, 15 anos. Aos nove anos, quando atravessava a rua acompanhado da família, ele foi atropelado por um carro. As consequências do acidente foram graves, o pequeno sofreu uma fratura exposta na bacia, perdeu parte da perna esquerda, quebrou os dois fêmures e teve que ficar oito meses internado no Hospital Pronto Socorro (HPS), na Capital.
Por aconselhamento médico, ele foi posto na natação e, neste momento, surgiu o amor pelas piscinas, conta o garoto.
— Comecei a nadar aos 12 anos e nunca mais parei. De lá para cá ganhei muitas medalhas, mas as mais importantes foram as da Paralimpíada, de 2016, em que conquistei uma medalha de ouro e outra de bronze. A natação é minha paixão e pretendo seguir carreira dentro da modalidade — diz um tanto envergonhado, mas confiante o jovem que busca o ouro nas competições de 400, 200, 100 e 50 metros.
Diferentemente de Derick, Lauren de Melo, 15 anos, que é deficiente visual, não vai precisar passar pelas seletivas. Ela já garantiu a vaga para as Paralimpíadas Escolares, em São Paulo, por não haver concorrentes no judô. Ano passado, a jovem abocanhou o ouro na disputa realizada na terra da garoa e foi eleita a melhor da sua categoria. Apesar dos grandes feitos em cima do tatame, ela considera que a maiores vitórias vieram de fora dele:
— Primeiramente, parei de beber refrigerante. Depois, o judô me ensinou a respeitar hierarquias, dentro e fora do tablado. Essa foi minha maior conquista, esses aprendizados diários são minha medalha de ouro.
O evento é promovido pela Secretaria do Esporte e Lazer (SEL) do Estado, com recursos provenientes dos repasses das Loterias Federais, através da Lei Pelé, em parceria com a Fundação de Atendimento ao Deficiente e ao Superdotado no Rio Grande do Sul (Faders). As atividades acontecem até as 18h de hoje.