Uma forte chuva prevista para a hora em que havia me programado para deixar o hotel na região central de Vancouver rumo ao aeroporto não me impediria de caminhar seis quadras até a estação de metrô, mas a outra possibilidade de deslocamento, além de mais confortável, era muito mais interessante. Compartilhei uma corrida de táxi com a síria Lubna Alkanawati, 39 anos, que em 2014 cruzou a fronteira para se refugiar na Turquia, abandonando os destroços de uma vida que já se tornara impossível, em uma jornada perigosa, na qual foi obrigada a mostrar, mais de 20 vezes, um documento de identidade falsificado. A cada parada, paralisava-a o terror de ser descoberta e detida.
Lubna também receava tomar o trem para o aeroporto na manhã do último dia 7: temia errar o caminho, perder-se na cidade desconhecida da costa oeste canadense. Queria chegar logo ao terminal para fazer o check-in e ter certeza de que ninguém encrencaria com seu passaporte da Síria, país destroçado por uma guerra civil iniciada em 2011. A ativista só pensava no filho de três anos, que a aguardava em Gaziantep, no sul do território turco, ansioso pelos presentes.
– O aborto é permitido no Brasil? – questionou-me Lubna, dirigente da organização Women Now for Development, que trabalha para empoderar mulheres sírias e de países vizinhos, no trajeto de cerca de 30 minutos.
Citei as três situações em que a interrupção da gravidez é autorizada: quando decorre de estupro, caso coloque em risco a vida da gestante ou se o feto é anencéfalo.
– Então é proibido – concluiu ela, ciente da eleição de Jair Bolsonaro mas, confessou, desatualizada sobre notícias que envolvem o jogador de futebol Neymar e a Seleção. – Parei de acompanhar quando cortaram a energia elétrica – recordou ela sobre os últimos tempos em que tentou sobreviver na nação de origem.
Conversei com Lubna mais de uma vez ao longo da primeira semana deste mês. Encantei-me por seus relatos desde que nos conhecemos, por acaso, no lobby do Coast Coal Harbour Hotel. Participávamos da Women Deliver 2019, a maior conferência mundial sobre igualdade de gênero, saúde, direitos e bem-estar de mulheres e meninas. Realiza-se a intervalos de três anos, cada vez em um país diferente. Nesta edição, ostentou números impressionantes: mais de 8 mil participantes de 165 países – é como se uma pequena amostra de quase todo o planeta estivesse circulando pelo imenso Vancouver Convention Centre. Em sessões plenárias, debates, workshops e encontros informais, sob o slogan “Poder, Progresso, Mudança”, falou-se de uma infinidade de temas. Tinha-se a impressão de que, a todo momento, se estava perdendo uma discussão importante – e estava mesmo.
Dados absurdos norteavam as discussões: a cada dois minutos, uma gestante morre em decorrência de complicações da gravidez ou do parto, e a maior parte desses óbitos poderia ser prevenida; em países em desenvolvimento, 214 milhões de mulheres não têm acesso a métodos contraceptivos modernos; 25 milhões de abortos inadequados são efetuados por ano devido ao estigma que o assunto carrega e ao acesso restrito a intervenções médicas seguras. Só esses tópicos poderiam preencher os três dias e meio de programação, mas havia muito mais.
Era um inferno, mas você se apega à vida nessas circunstâncias porque luta por ela. Você paga um preço muito alto para dizer: “Eu mereço a liberdade”.
LUBNA ALKANAWATI
Ativista síria
O cardápio de convidados figurava como uma atração por si só: Tarana Burke, fundadora do movimento americano Me Too (“eu também”, em inglês) contra o abuso sexual, a filantropa Melinda Gates, a princesa Mary da Dinamarca, Tor Pekai e Ziauddin Yousafzai, pais da Nobel da Paz Malala Yousafzai, e a ativista Zoleka Mandela, neta do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, entre tantos outros nomes. Em um evento dominado pela presença feminina, eles também ganharam algum destaque – anfitrião, o galã Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, levou um auditório preenchido aos milhares à ebulição. Eleito com bandeiras progressistas, autointitulado feminista, Trudeau foi saudado, no início de sua administração, por montar uma equipe composta por homens e mulheres em igual quantidade. Na conferência, ele anunciou que o governo elevará seu investimento em políticas que beneficiam a saúde de mulheres e meninas, em todo o mundo, de 1,1 bilhão para 1,4 bilhão de dólares canadenses (mais de R$ 4 bilhões) a partir de 2023.
– Imagino a dificuldade de ser feminista na linha de frente – comentou o queridinho da política internacional, famoso por seus pares de meias fashion, na abertura do megaevento. – A diversidade é um fato, mas a inclusão é uma escolha.
Lideranças incipientes não foram ofuscadas. Natasha Chibesa Wang Mwansa, africana franzina de 18 anos, em um chamativo vestido rosa, inflamou a plateia com uma fala rápida e estridente.
– Não basta dizer ao governo que temos fome. Temos que dizer fome do quê! – conclamou a jovem da Zâmbia, ao lado de Trudeau, que se levantou para aplaudi-la.
Lubna Alkanawati defende o direito ao aborto – sírias solteiras, que chegam ao hospital para dar à luz sem estarem acompanhadas do marido, são cruelmente separadas dos filhos, encaminhados então a abrigos –, o controle da mulher sobre o próprio corpo, o direito de ir e vir.
– Todo mundo que praticava ativismo, que clamava por liberdade, que tinha uma voz contra a ditadura estava em perigo na Síria. Não havia perdão. Capturavam pessoas e as torturavam até a morte. Não sofri nada, mas foi um pesadelo para mim. Eu preferia ser morta, e não capturada – relembra.
É frustrante ficar falando o tempo todo e não ver nenhum impacto, nenhuma ação, nenhuma mudança. Senti que era importante usar esse espaço. Talvez nada aconteça (na Síria), talvez ninguém seja responsabilizado, mas pelo menos temos de contar nossa história para que esses crimes não se repitam na próxima geração.
LUBNA ALKANAWATI
Ativista síria
Ela suportou dois anos sem eletricidade, água encanada, internet, transporte. As pessoas tiveram de comer a comida dos animais.
– Era um inferno, mas você se apega à vida nessas circunstâncias porque luta por ela. Você paga um preço muito alto para dizer: “Eu mereço a liberdade”.
Depois de ter a casa totalmente destruída, a fuga para a Turquia foi negociada por quatro meses e só viabilizada com os serviços de um coiote. Um percurso que em condições normais era cumprido em duas horas tomou mais de 20. Em todos os checkpoints onde o ônibus parou, Lubna se confrontou com o pavor de ser descoberta:
– Morri a cada vez que pediram para ver meu documento.
Designer gráfica de formação, Lubna agora se dedica em tempo integral ao ativismo e à família. Apesar de receber diversos convites para eventos no Exterior, recusa a maioria. Prefere ficar cuidando do filho e evitar complicações com vistos de viagem. Decidiu ir ao Canadá por conta da magnitude da conferência, um bom palanque para tentar amplificar o alcance da mensagem que quer transmitir:
– É frustrante ficar falando o tempo todo e não ver nenhum impacto, nenhuma ação, nenhuma mudança. Senti que era importante usar esse espaço. Talvez nada aconteça (na Síria), talvez ninguém seja responsabilizado, mas pelo menos temos de contar nossa
história para que esses crimes não se repitam na próxima geração.
Meninas, não noivas
Referência histórica de mazelas como a mortalidade infantil, a desnutrição, a mutilação genital e o casamento de crianças e adolescentes, o continente africano estava representado em peso entre as autoridades. Presidente de Gana, Nana Akufo-Addo pouco teve a contar no que diz respeito a avanços e foi vaiado pela plateia. Uhuru Kenyatta, do Quênia, encontrou uma audiência mais amistosa, que aplaudiu o provimento gratuito de absorventes higiênicos para 4 milhões de garotas. Sahle-Work Zewde, primeira mulher eleita como principal mandatária da Etiópia, sublinhou a origem de seu protagonismo.
– Se vocês me veem aqui sentada hoje, é porque tive a chance de ir à escola – declarou a diplomata de 69 anos.
Se vocês me veem aqui sentada hoje, é porque tive a chance de ir à escola.
SAHLE-WORK ZEWDE
Presidente da Etiópia
O matrimônio infantil, um dos temas centrais da Women Deliver 2019, ainda é um problema gravíssimo em escala global. De acordo com a organização Girls Not Brides (“meninas e não noivas”), anualmente, 12 milhões de meninas se casam antes da maioridade. Na África subsaariana, 38% de todas as mulheres estão casadas antes dos 18, e no sul da Ásia, 30%. Os dados também são assustadores no Brasil, que está na quarta posição (em números absolutos) no ranking da América Latina e do Caribe, com 2,9 milhões de crianças e adolescentes nessa situação. A entidade destaca que o problema é subestimado na
região, onde são comuns uniões informais (coabitação sem registro) e casamentos por falta de perspectivas de futuro. Moradoras de zonas rurais, de acordo com a entidade, são fortemente atingidas. Outra quantidade estupefaciente: de todas as mulheres vivas hoje,
650 milhões delas se casaram antes dos 18 anos.
– A desigualdade e o patriarcado não terminam aos 18 anos. Há mulheres de 40 anos que nunca tomaram uma decisão – atestou Jade Maina, ativista do Quênia.
Para a pesquisadora nigeriana Chiamaka Uzomba, o matrimônio infantil não é uma questão isolada – está relacionada a vários outros problemas de desenvolvimento.
– Precisamos começar a ver as garotas não como pessoas a serem salvas, mas como pessoas a serem engajadas – demandou Chiamaka.
Hadiqa Bashir, paquistanesa de 17 anos, viajou ao Canadá para narrar como escapou de uma união forçada. Quando Hadiqa tinha apenas 11, um motorista de táxi de 35 anos se interessou por ela. Para o espanto da então pré-adolescente, seu pai, uma pessoa que considerava esclarecida, concordou com o casamento, por julgar a proposta boa, vinda de alguém de classe social semelhante. Um tio de Hadiqa conseguiu demover a família da ideia. Depois de chorar muito e se libertar do compromisso, a jovem se tornou uma militante mirim, batendo de porta em porta, tentando convencer os adultos a abandonarem a prática. Indignados, os vizinhos iam até a casa de Hadiqa, exigindo que a garota parasse de mexer com as tradições. Segundo a jovem, a punição para o homem que se casa com uma menor de idade, no Paquistão, é apenas uma multa de US$ 10 (menos de R$ 40).
– Não sou contra o casamento; sou contra o casamento infantil. Quero casar, quero ter filhos. Estou aprendendo sobre a maternidade – contou Hadiqa em entrevista a ZH. – Quero que meus filhos sejam superstars!
“Elas querem apenas viver”
Para que possamos avançar nas questões de igualdade de gênero, as mulheres devem estar aptas a controlar sua fertilidade e seus ganhos. Precisamos de investimento no acesso à contracepção, ao aborto seguro e à ampla educação sexual.
KATJA IVERSEN
Presidente da Women Deliver
Outra questão preocupante relacionada à infância e à adolescência que mobilizou os microfones foi a gravidez precoce. Um estudo conduzido pela organização não governamental (ONG) Population Council, com sede em Nova York (EUA), em parceria com a Women Deliver, demonstrou que há uma associação negativa e duradoura entre gestações antes dos 18 anos e o empoderamento econômico dessas mães. Uma das conclusões centrais do levantamento, que reflete a realidade de mais de 600 milhões de cidadãs do mundo inteiro, revela que a maior parte das mulheres trabalha, mas isso não significa, necessariamente, que elas são remuneradas por isso. Em muitos países, não é permitido à parcela feminina dar destino à própria renda.
– A capacidade de ganhar dinheiro e controlá-lo representa muito mais do que um salário. Isso influencia a habilidade de uma mulher de fazer escolhas de vida estratégicas – garantiu Stephanie Psaki, executiva da Population Council. – Ganhar um bebê muito cedo a limita economicamente a curto prazo e pela vida inteira.
Katja Iversen, presidente da Women Deliver, em uma de suas tantas manifestações, pediu a conscientização quanto à necessidade de ampliação das oportunidades econômicas e sintetizou o – que deveria ser – óbvio:
– Para que possamos avançar nas questões de igualdade de gênero, as mulheres devem estar aptas a controlar sua fertilidade e seus ganhos. Precisamos de investimento no acesso à contracepção, ao aborto seguro e à ampla educação sexual.
A sul-africana Ntokozo Zakwe, representante do programa Dreams (“sonhos”, em inglês), com atuação em prol da redução de infecções pelo vírus da aids, completou:
– Jovens meninas querem apenas viver. Elas não querem contrair HIV ou engravidar precocemente. Elas querem apenas viver.
O pior da violência é perder o poder sobre o seu corpo. Contar nossas histórias é poder tirá-las do nosso corpo. Não precisa haver sempre essa grande divulgação. Tenham cuidado, pensem. Temos que lidar com as consequências depois de falar. Vocês não precisam contar detalhes. As pessoas pensam, erroneamente, que uma voz ou um pequeno grupo de vozes não funcionam. Isso não é verdade. Quando você fala, não pense que ninguém está ouvindo. Alguém estará.
TARANA BURKE
Ativista do movimento Me Too
Apesar dos percentuais tão desanimadores, um relatório da organização humanitária Save the Children (“salve as crianças”), dos EUA, revelou que 280 milhões de crianças no planeta, ou uma em cada oito, vivem melhor atualmente do que duas décadas atrás. Quase todos os índices analisados (trabalho, desnutrição, evasão escolar, casamento, gravidez e homicídios) melhoraram desde 2000, com exceção de um: o sofrimento provocado por guerras. A Síria, terra natal de Lubna, retratada no início desta reportagem, e o Iêmen contribuíram significativamente para o aumento de 80% (30,5 milhões de pessoas a mais)
no contingente forçado a deixar suas casas em decorrência de conflitos. Como razões para a mudança geral para melhor, a entidade relaciona o comprometimento de governos, verbas para programas sociais, novas tecnologias, redes sociais e crescimento da liderança feminina em todos os níveis.
– O investimento continuado em políticas focadas na criança aumentou enormemente as chances de um crescimento saudável, com educação e segurança. Vinte anos atrás, uma mudança dessa magnitude não parecia possível. Problemas como desnutrição crônica ou centenas de milhões de crianças fora da escola pareciam grandes demais. Esses resultados nos mostram que, com engajamento forte e liderança, conseguimos promover mudanças, e rapidamente – avaliou Carolyn Miles, CEO da Save the Children.
“Não sabia que podia pedir ajuda”
Uma das plenárias mais concorridas da Women Deliver 2019 reuniu líderes de movimentos. Tarana Burke concebeu a hashtag mais conhecida do universo virtual no que tange a direitos femininos, a #metoo, que acompanhou uma recente avalanche de relatos de abuso sexual, iniciada com o escândalo envolvendo denúncias contra o produtor de cinema Harvey Weinstein. A ativista americana contou, com certa frustração, que a viralização da expressão e a consequente fama súbita que a catapultou acabaram por ofuscar um trabalho iniciado muito tempo antes, em sua comunidade, onde ouvia histórias de vítimas anônimas.
– O pior da violência é perder o poder sobre o seu corpo. Contar nossas histórias é poder tirá-las do nosso corpo. Não precisa haver sempre essa grande divulgação. Tenham cuidado, pensem. Temos que lidar com as consequências depois de falar. Vocês não precisam contar detalhes – orientou a nova-iorquina do Bronx. – As pessoas pensam, erroneamente, que uma voz ou um pequeno grupo de vozes não funcionam. Isso não é verdade. Quando você fala, não pense que ninguém está ouvindo. Alguém estará.
Os feminicídios não são atos isolados. Assentam-se sobre uma cadeia de erros, são a ponta do iceberg. Debaixo, há violência econômica, cultural e midiática.
VANINA ESCALES
Fundadora do Ni Una Menos
Dando protagonismo às latinas, Vanina Escales, do coletivo Ni Una Menos (“nem uma a menos”), que também se amparou em uma contundente hashtag (#NiUnaMenos), falou sobre o poder das redes sociais, que disseminaram a convocação para concentrações massivas na Argentina, em junho de 2015, após o assassinato de uma adolescente de 14 anos, grávida, pelo namorado.
– Os feminicídios não são atos isolados. Assentam-se sobre uma cadeia de erros, são a ponta do iceberg. Debaixo, há violência econômica, cultural e midiática. Amplificamos a mensagem – relatou a jornalista. – A mudança foi profunda, mas a violência se mantém: morre uma mulher ou uma travesti a cada 32 horas na Argentina.
Eu não sabia que podia pedir ajuda. Meu fundo do poço foi a morte da minha filha. Ser uma Mandela significa que, supostamente, você precisa ser forte. O legado dos meus avós é a força do que faço. Eu era muito jovem, mas fui muito impactada. Os sacrifícios que tivemos que fazer... Minha história é só uma história. Não deve importar quem você é, de onde você vem, de que cor você é.
ZOLEKA MANDELA
Neta de Nelson Mandela
Donald Trump, presidente dos EUA, amargou menosprezo das painelistas. Tina Chen, advogada que atuou como assistente do casal Michelle e Barack Obama, ex-ocupantes da Casa Branca, e lidera uma iniciativa para ajudar mulheres violentadas no ambiente de trabalho, lembrou que o grande número de eleitores democratas que deixaram de votar nas eleições de 2016 contribuíram com a surpreendente derrota de Hillary Clinton e com a eleição do magnata republicano, sobre o qual recaem denúncias de abuso sexual.
— Não podemos sentar e ser complacentes. Não podemos deixar isso acontecer novamente no ano que vem – instou Tina, em referência ao próximo pleito. – Estamos vivendo um momento terrível, que pode piorar. Nossos netos olharão para trás e nos perguntarão o que fizemos em 2019 e 2020. A hora de agir é agora.
Tarana emendou:
– Sabemos que Trump é um palhaço. Mas não se trata de uma pessoa só. O líder da sua comunidade pode ser um misógino.
Zoleka Mandela, neta de Nelson Mandela, ícone da luta contra o apartheid, criou uma fundação que leva seu nome e tem como objetivo educar a população sobre câncer de mama e direção segura. Ela própria ilustra o conteúdo de seus discursos: dependente de drogas e álcool, sobreviveu ao tratamento contra dois tumores mamários e sofreu a perda de uma filha em um acidente de carro, provocado por um motorista bêbado, em 2010. Duro golpe para o ex-presidente da África do Sul, então com 91 anos e saúde frágil, a tragédia ocorreu na véspera do início da Copa do Mundo sediada no país. Mandela não compareceu à cerimônia de abertura da competição. Em Vancouver, Zoleka proferiu um dos depoimentos mais emocionantes de toda a conferência.
– Eu não sabia que podia pedir ajuda. Meu fundo do poço foi a morte da minha filha. Ser uma Mandela significa que, supostamente, você precisa ser forte – confidenciou a escritora de 39 anos, que, ao se apresentar, contou que foi ela o bebê que Winnie Mandela, sua avó, levou escondido à prisão de Robben Island, onde Mandela estava encarcerado, para que ele pudesse desfrutar da breve emoção de acolher um dos netos nos braços. – O legado dos meus avós é a força do que faço. Eu era muito jovem, mas fui muito impactada. Os sacrifícios que tivemos que fazer... Minha história é só uma história. Não deve importar quem você é, de onde você vem, de que cor você é.
Em um evento de protagonismo absoluto das mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora-executiva da UN Women, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para as questões femininas, não esqueceu de deixar um recado a “homens, meninos e pais”, que considera “fundamentais para quebrar as normas e os preconceitos vigentes”:
– Parafraseando Mandela, quando homens bons não fazem nada, trata-se de uma conspiração contra as mulheres. Façam alguma coisa, digam alguma coisa.
A repórter viajou ao Canadá como bolsista da Women Deliver 2019 Global Conference