Um cofre centenário, trancado há cerca de duas décadas, intriga uma comunidade do interior de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. Feito de aço, com dois compartimentos e cerca de um metro e meio de altura, ele pertenceu a uma antiga cooperativa de agricultores e estava esquecido até agora, quando foi colocada em curso uma mobilização para tentar abri-lo e descobrir seu conteúdo. Na manhã desta terça-feira, deve ser feita uma tentativa descobrir que mistérios seu interior esconde.
O cofre encontra-se no Rotary Club Santa Cruz do Sul Cidade Alta, que ocupa uma sala em um prédio da localidade de Linha Santa Cruz. Construída para sediar a União Sul-Brasileira de Cooperativas, a edificação foi inaugurada em 1913, época em que o cofre, da marca Berta, teria sido comprado. Há cerca de 20 anos, a cooperativa encerrou as atividades, mas o cofre permaneceu no edifício, fechado e sem chaves.
Hoje o prédio pertence ao município de Santa Cruz do Sul e abriga diferentes entidades, como a subprefeitura e o Rotary. Ex-presidente e atualmente responsável pelo protocolo do clube, o instrutor teórico de autoescola Paulo Afonso Trinks, 66 anos, conta que deparou com a peça de aço ao instalar o clube no local, há seis meses.
— Chegamos e aquela sala tinha um piso de tábua de pinho de cento e tantos anos, do tempo da inauguração. Tivemos de trocar o piso, que estava ruim. O cofre estava ali e, para movimentá-lo, precisamos de quatro homens, com um pau redondo para rolar. É pesado — relata.
Recentemente, foi realizada no local uma reunião para discutir as comemorações dos 170 anos da imigração alemã na zona. Na ocasião, o cofre chamou a atenção do jornalista Romar Beling, que publicou uma reportagem no jornal Gazeta do Sul. A partir dali, começou o esforço para encontrar uma forma de abrir os compartimentos. A primeira constatação foi que os antigos diretores da cooperativa, que poderiam ter as chaves, estavam mortos. Com a divulgação do mistério, várias pessoas apareceram tentando ajudar.
— Já estamos comentando isso há vários dias e até agora não apareceu ninguém com a chave. Apareceram só com chaves de outros cofres. Mas está bonita a mobilização. Veio até um cara com uma chave e disse: "Olha, vocês só não avisem a minha mulher, porque esta chave é do meu cofre". Lógico que não ia abrir com a chave de um cofre particular — comenta Paulo Afonso.
Outra sede de cooperativa tem cofre idêntico
Nascido e criado na comunidade, o integrante do Rotary costumava frequentar o prédio quando era criança. A cooperativa mantinha ali uma estabelecimento comercial, que vendia tecidos, açúcar, arroz, feijão, e ele era mandado para fazer compras no local desde os seis ou sete anos de idade. Quando o atendente não tinha troco, ia até cofre, que ficava próximo, para pegar o dinheiro. Paulo Afonso via-o girar a chave e abrir o compartimento superior.
— Ficava na sala do diretor, bem na entrada, e quando a gente estava parado no balcão via o cofre ali. O compartimento de baixo eu nunca vi aberto, sempre abriam o de cima — conta Paulo Afonso.
Em busca de informações, soube-se nos últimos dias que uma outra sede da cooperativa, na localidade de Rio Pardinho, tem um cofre idêntico, também trancado e sem chave. Um terceiro exemplar, da mesma marca mas um pouco diferente, este com a chave, pertence a uma empresa de Santa Cruz do Sul, conforme revelado pela Gazeta do Sul.
Nos últimos dias, Paulo Afonso fez contato com chaveiros, mas nenhum se animou a tentar a abertura — o desafio é não danificar a peça, tratada como patrimônio histórico. Na tarde desta segunda-feira, dois profissionais disseram-lhe que não há o que fazer sem a chave — só arrombar, possibilidade que está descartada. Também foram contatadas empresas especializadas em Porto Alegre.
Uma tentativa será feita na manhã desta terça-feira. Um homem entrou em contato para dizer que tem a chave. Paulo Afonso recebeu a informação com algum ceticismo, mas marcou a operação para as 10h.
Mesmo que não dê certo, a expectativa é de que, em breve, se consiga abrir o cofre e descobrir que segredos ele esconde.
— Como ninguém apareceu com a chave, estamos procurando alguém para abrir. Tem muita curiosidade em relação a isso. Cada um diz que tem uma coisa diferente dentro. Imagino que tenha documentos. Também pode ser que não tenha nada. Dinheiro, provavelmente não tem, senão não teriam perdido a chave — afirma Paulo Afonso.