Pelotas viajou 88 anos ao passado nesta terça-feira (14). A cápsula do tempo enterrada em 1931 e encontrada uma semana atrás, durante escavações na Praça Pedro Osório, no centro da cidade, finalmente teve o conteúdo revelado. No seu interior, muita água acumulada durante quase 90 anos de chuva e umidade, na qual boiavam retalhos de folhas de jornais e documentos, o que corroborou as expectativas dos pesquisadores de que o recipiente traria exemplares de jornais e atas da época.
Agora, a cápsula será enviada à Universidade Federal de Pelotas, aos cuidados do Curso de Conservação e Restauro, onde será restaurada, terá seu conteúdo exposto e, dentro do possível, recuperado, o que ainda não tem prazo para ocorrer.
A abertura foi precedida por uma breve cerimônia na prefeitura. Historiadores, jornalistas e comunidade acompanharam aflitos enquanto restauradores manuseavam a chave na fechadura maltratada pela ferrugem. Quando desbloquearam a urna, feita de ferro fundido e com dimensões pouco maiores do que uma caixa de sapato, foi revelada uma camada de água escura, com lodo e páginas degradadas, mas legíveis, de jornais antigos, como o do clube O Caixeral, que ainda existe.
— Já esperávamos que estivesse bem comprometido o conteúdo, por isso, será importante fazer a remoção desta primeira camada com muito cuidado, para não danificar o material, e descobrir o que tem abaixo — explica Fabiana Moraes, restauradora encarregada para limpar, remover a oxidação e registrar a cápsula.
Na sexta-feira passada (10), os pesquisadores haviam colocado a urna em um aparelho de raio x para tentar descobrir o conteúdo e o mecanismo de fechadura, e o exame já havia mostrado que ela estava inundada, o que trouxe o receio de que não houvesse sobrado nenhum objeto inteiro.
A urna foi encontrada na terça-feira (7), ao pé do monumento dedicado à modelo pelotense Yolanda Pereira (1910-2001), que foi miss Brasil e miss universo (antes de a competição se tornar oficial), em 1930. Historiadores acreditam que o objeto tenha sido colocado no local em 1931 para ser aberto 50 anos depois, mas esquecido.
— Até algum tempo atrás, era comum colocar cápsulas do tempo ao pé de monumentos, era uma grande sensação para a comunidade imaginar que no futuro seus registros seriam descobertos — explica o pesquisador Guilherme Pinto da Almeida, considerado o descobridor da urna, uma vez que a mencionou no livro Almanaque do Bicentenário de Pelotas, em 2012, dando início a mobilizações de historiadores para encontrá-la.
O trabalho da UFPel poderá esclarecer se estão lá os objetos que teriam sido enterrados com a urna, como uma foto autografada da modelo pelotense, um chaveiro com tiras nas cores da bandeira do Estado e moldes de moedas de prata com a efígie de Yolanda. Esses itens constam no Almanaque de Pelotas de 1931, em um registro do enterro da caixa.
Entusiasmada com a descoberta, a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, anunciou a intenção de lançar uma nova cápsula do tempo para ser aberta daqui há 50 anos, e revelar o contexto atual da cidade ao sul do Estado. Em breve, deve ser lançado pela internet um questionário para a população escolher o que colocará no recipiente.