Os calouros da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) podem ter levado na brincadeira, mas, para as crianças que participaram da 5ª edição do Trote Solidário: Careca Amiga, o assunto foi sério na manhã desta segunda-feira (29). Com ar compenetrado, elas ajudaram cabeleireiros voluntários no tradicional corte de cabelo dos universitários no ambulatório do Hospital da Criança Santo Antônio, da Santa Casa de Porto Alegre.
O evento, promovido pela Liga do Câncer da UFCSPA, leva os futuros profissionais a interagir com os pequenos pacientes, também ajudando a ONG Cabelaço na coleta de mechas para a confecção de perucas. Ao longo da manhã, 15 estudantes passaram pelas cadeiras do ambulatório. As alunas com cabelo comprido cederam 15 de suas mechas para apoiar crianças e adolescentes em uma fase difícil: a queda de cabelo é um dos efeitos adversos da quimioterapia e radioterapia no tratamento do câncer.
— A gente percebe que crianças pequenas, até uns quatro anos de idade, não dão muita bola para a perda de cabelo. As maiores, entre cinco e 12 anos usam mais as perucas, muito ainda como uma brincadeira, de forma lúdica — explica a médica hematologista Laura Borba, do Serviço de Oncopediatria.
Ela conta que, acima dessas idades, nos adolescentes, a preocupação já começa antes do início do tratamento. Durante a internação, alguns nem recebem os médicos no quarto sem colocar a peruca.
Todas as crianças que participaram da atividade, explica Laura, já passaram pela fase aguda do tratamento e retornam ao hospital para consultas periódicas. De acordo com a médica, cerca de 150 estão hoje sob os cuidados do Hospital da Criança Santo Antônio. De acordo com a instituição, outros 500 casos são acompanhados.
Descontração durante visita de acompanhamento
É o caso da concentrada Alexia Alana Fontoura Guedes, cinco anos, que fez um trabalho e tanto no calouro de Medicina Pedro Miranda, 18 anos. Com poucas dicas, ela já começou a manusear sozinha, com alguma habilidade, a máquina na nuca do estudante de Medicina. Quando a cabeleireira tentava tirar um pouco o equipamento, a pequena resistia. Poucos metros longe, de sorriso aberto, a mãe dela, Cristiane Guedes, 38 anos, divertia-se com a cena no local que faz parte da vida delas há três anos.
— Chegamos aqui quando ela tinha dois anos. Começou quando notamos um pequeno caroço na panturrilha dela. Era um tumor. Foram várias etapas de tratamento e três cirurgias — lembra a professora moradora do bairro Partenon, zona leste de Porto Alegre.
Agora, Alexia mantém as idas periódicas ao Santo Antônio para acompanhamento. Quando fez uma pausa nos cortes de cabelo, voltou para perto da mãe muito contente com o resultado.
— Foi bom, eu gostei. E não é difícil. Agora quero cortar mais cabelo! — disse em passo rápido, mas logo sendo contida pela mãe.
Outra mãe orgulhosa era Karina da Silva, 37 anos, moradora do Morro Santana, na Capital. Ela observava com atenção o esforço de Lais Eduarda, nove anos. A pequena também deixou a família com o coração na mão quando teve detectado um caroço no abdômen, um tumor em fase inicial. Mas assim como no caso de Alexia, o pior ficou para trás, mas com consultas regulares no hospital. Enquanto ela respondia às dicas do cabeleireiro, Karina avisava:
— A sinceridade é o forte dela. Se não gosta, diz que não gosto mesmo.
Para quem esteve do outro lado da cadeira, a experiência foi inesquecível. No primeiro ano de Medicina, Carolina Herzog, 18 anos, de Porto Alegre, quase foi às lágrimas.
— Nossa, nem tenho palavras. Foi um momento de pura felicidade. Nunca imaginei que fosse sentir isso. Só de saber que meu cabelo vai ajudar, é maravilhoso.