A comunidade judaica promoveu na noite desta quinta-feira (25), em Porto Alegre, um jantar pela Páscoa judaica que contou com a presença de convidados especiais. Sentaram-se à mesa, como homenageados, imigrantes de Haiti, Senegal, Peru e Venezuela.
Pelo calendário judaico, o também chamado Pessach é comemorado, neste ano, entre a noite de 19 de abril e a noite de 27 de abril. A data lembra a libertação dos hebreus no Egito.
A celebração comunitária ocorreu na sede da Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (Sibra) e contou com a presença do governador Eduardo Leite e também do cônsul-geral da Alemanha, Thomas Schmitt.
Pelas mesas, foram distribuídos estrangeiros chegado nos últimos anos ao Rio Grande Sul, para confraternizar e contar sua história a dezenas de integrantes da comunidade judaica que compareceram. Ao explicar a acolhida e a homenagem aos que vieram de fora, o rabino Guershon Kwasniewski lembrou que os próprios judeus foram estrangeiros no Egito, escravos do faraó:
— Uma das características do texto chamado Hagadá, que faz a narrativa do Êxodo, é dizer que nós vivemos a condição de estrangeiros, e sabemos o quão ruim foi o que passamos no Egito, de onde Deus nos tirou com braço firme, estendido. Segundo a Bíblia, as três categorias mais frágeis dentro de uma sociedade são a viúva, o órfão e o estrangeiro. Resolvemos homenagear os imigrantes, integrando-os à nossa celebração. Estamos dizendo com fatos, e não apenas com palavras: bem-vindos à nossa mesa, bem-vindos à nossa casa, bem-vindos à nossa cidade, bem-vindos ao nosso Estado.
O evento foi um jantar tradicional, com cânticos e pratos típicos da Páscoa judaica. Segundo o rabino Kwasniewski, o foco foi convidar pessoas que chegaram nos últimos tempos para viver no Rio Grande do Sul, algumas delas fugindo de guerra civil, de fome e de outras condições precárias.
— Se há algo ruim na sociedade atual, é a indiferença. Não podemos ser indiferentes — ressaltou o rabino.
Entre os convidados estavam sete haitianos, como o engenheiro de computação Alix Georges, 37 anos, que cantou uma versão em francês do Canto Alegretense. Empregado em uma multinacional, ele tem se dedicado a ajudar compatriotas recém-chegados. Ele definiu o convite para o evento de Páscoa como "maravilhoso":
— O povo de Israel era imigrante no Egito, estava viajando e voltou. Esse é o sonhos dos haitianos também.
Ao lado dele, encontrava-se o padre católico James-son Mercure, também do Haiti, que está há seis meses em Porto Alegre, dando apoio a imigrantes.
— Achei este convite muito importante — disse.
Em outra mesa, as irmãs Anitza Guaypero, 51 anos, e Alidia Guaypero, 58 anos, representavam uma família de 10 venezuelanos que se instalaram em São Leopoldo, no Vale do Sinos, por causa da difícil situação em seu país. Anitza, que ensina espanhol, chegou há dois anos. A advogada Alidia veio seis meses atrás, depois de sofrer um sequestro. Elas celebraram a acolhida oferecida pelos brasileiros.
— Amo meu país, mas a situação está muito difícil. E as pessoas no Brasil são lindas, vocês têm um coração muito grande para os imigrantes — disse Alidia.
Anitizia concordou:
— O Brasil sempre nos acolheu bem, e uma demonstração disso é este convite para estarmos aqui.
Diante do governador, o rabino fez um anúncio:
— Seria um erro convidarmos os estrangeiros para estar aqui e depois esquecê-los. Esta comunidade assume, nesta noite, o compromisso de trabalhar junto com o governo do Estado para que a vida dos imigrantes seja mais digna e mais fácil.