Uma pesquisa realizada pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre testou quatro equipamentos diferentes do chamado drogômetro, que está sendo estudado para utilização na fiscalização de trânsito. O resultado chama a atenção: 8,5% dos motoristas abordados estavam sob efeito de cocaína.
O levantamento, o primeiro estudo piloto no país envolvendo os equipamentos, foi feito pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Trânsito e Álcool (Nepta), ligado ao Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas. Os pesquisadores abordaram os motoristas junto com agentes das operações Balada Segura em Porto Alegre. Dos 178 motoristas que foram retirados da via, 164 aceitaram participar do teste. Deste total, 14 (8,5%) tiveram amostras positivas na triagem para cocaína, nove (5,5%) para maconha, nove(5,5%) para benzodiazepínicos e cinco (3%) para anfetaminas.
Depois da triagem feita com os drogômetros, os pesquisadores submeteram parte das amostras a testes de laboratório, que precisaram ser feitos no Exterior devido à falta deste tipo de testagem no Brasil. Todas as amostras de cocaína foram confirmadas:
— Os drogômetros respondem "sim" ou "não", a partir de determinada concentração da droga. Para a análise de quantidade, são necessárias técnicas confirmatórias, e isso é difícil porque só pode ser feito no Exterior. Para cocaína, os dispositivos avaliaram super bem, mas para maconha, não foram tão bem assim — explicou Juliana Scherer, coordenadora do Nepta, em entrevista ao Gaúcha Atualidade.
Não existe aparelho 100%, e é importante que isso fique claro. Uma avaliação adequada pressupõe mais de uma medida, e não apenas uma.
FLÁVIO PECHANSKY
pesquisador
Na avaliação dos pesquisadores, três dos quatro drogômetros tiveram bom resultado, mas não podem ser utilizados como única fonte para identificar se o motorista está ou não sob uso de drogas. A avaliação clínica de agentes também deve ser levada em consideração em uma abordagem:
— Não existe aparelho 100%, e é importante que isso fique claro. Uma avaliação adequada pressupõe mais de uma medida, e não apenas uma. Um aparelho bom deve estar aliado a uma avaliação clínica, com um agente "lendo" a pessoa e identificando se ela está sob efeito de substâncias. A soma destas informações é o que chega mais perto do que seria o 100%. E isso tem que ser aplicado a uma polícia eficaz, lei dura e o cumprimento dela. Os policiais já fazem bem esta identificação, mas têm receio de que somente o relato deles não será suficiente para caracterizar que a pessoa estava alterada — detalhou o pesquisador Flávio Pechansky, diretor do centro de pesquisa.
Os pesquisadores ressaltam que, diferente do que ocorre com o álcool, os efeitos da droga no organismo e na capacidade de dirigir não são tão conhecidos. Isso faz com que haja necessidade de mais pesquisa e proibição total do uso de substâncias, enquanto seus efeitos não foram plenamente estudados:
— A curva do efeito do álcool no trânsito é conhecida há décadas. Para drogas, estas curvas não são tão perfeitas. O usuário pode estar positivo para maconha, e isso não é exatamente igual a dano, o que é medido pela performance da pessoa. A dose de maconha que causa alteração no trânsito é variável de pessoa para pessoa e, se a gente ainda não conhece, melhor que não se tenha nada — explica Pechansky. — A maconha pode até produzir lentificação no dirigir, deixar a pessoa mais devagar, mas também provoca alterações na estimativa de tempo e distância. A cocaína produz sensação de ativação do sistema nervoso central, mas é euforizante e dá a sensação de "eu sou o super-homem", o que no trânsito é um problema.
O estudo será detalhado no Hospital de Clínicas na tarde de terça-feira (11) pelos pesquisadores.
Se houver a conclusão de que os drogômetros podem ser usados, caberá ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) homologar o uso. A partir daí, os órgãos de trânsito estariam aptos a iniciar o processo de aquisição dos equipamentos.