Duas tragédias envolvendo crianças nas últimas semanas voltaram a alertar para os cuidados que pais e responsáveis precisam ter com os pequenos. A primeira, no dia 10 de novembro, foi com o menino Lucca Guilherme, seis anos, filho do ex-goleiro do Cruzeiro Elisson, e comoveu o Brasil: morreu porque um armário de madeira caiu sobre ele quando tentava pegar um refrigerante sobre o móvel.
O acidente mais recente foi em Passo Fundo, no dia 17, quando Enzo Gabriel Vieira, três anos, morreu afogado na piscina de casa, no bairro Santa Maria. Infelizmente, os elementos envolvidos nesses casos não surpreendem o pediatra Silvio Baptista, diretor da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul. Ambos estão ligados a características relacionadas às idades das vítimas e à exploração dos ambientes. Quanto mais velhas elas ficam, maiores serão os desafios que procuram.
– Esse tipo de acidente do menino de seis anos, por exemplo, é muito característico dessa idade. Elas são ágeis e começam a fazer escalada em móveis dentro de casa. Provavelmente, esse menino, para alcançar o refrigerante, fez isso.
A regra é que, se o móvel tem algum risco de virar, mesmo pequeno, precisa ser fixado na parede. No caso das piscinas, a ONG Criança Segura destaca como obrigatória uma proteção em volta delas com cerca de, no mínimo, um metro e meio de altura, justamente para impedir as escaladas. De acordo com a instituição, os acidentes são a principal causa de morte de crianças e adolescentes de zero a 14 anos no Brasil.
Todos os anos, aproximadamente 3,7 mil meninas e meninos nessa faixa etária morrem, e outros 113 mil são hospitalizados. Conforme os dados mais recentes do Ministério da Saúde (referentes ao ano de 2016), quedas como a de Lucca são o quinto tipo de acidente fatal mais frequente para os pequenos: provocaram 183 mortes no país – sem contar as quase 52 mil hospitalizações. O campeão de óbitos segue o trânsito brasileiro: 1.292 vítimas.
O mapa dos perigos e como contorná-los
Cuidado especial na casa dos avós
O ambiente doméstico, onde as crianças passam boa parte do tempo, é um dos mais perigosos, escondendo armadilhas como a que vitimou o filho do ex-goleiro do Cruzeiro. Crianças são, naturalmente, curiosas e imaginativas, e os cômodos da casa tornam-se cenários para uma série de brincadeiras. Nessa fase da vida, pais e esponsáveis devem estar atentos e avaliar possíveis riscos expostos na residência.
Se dentro da própria casa a atenção tem de ser grande, ao sair para visitar familiares – o acidente de Lucca ocorreu no sítio de parentes – o cuidado não pode arrefecer. Um desses ambientes, muitas vezes já despreparados para o público infantil, é a casa dos avós.
– Às vezes, a criança não vê a casa dos avós faz anos. Ela é curiosa, vai explorar ambientes desconhecidos. Nessas ocasiões, é a observação atenta dos cuidadores que evita acidentes em locais que não têm o mesmo preparo de onde a criança vive – aponta Baptista.
Além disso, geralmente, onde vivem pessoas mais velhas, há grande quantidade de remédios, um enorme perigo. O especialista salienta, ainda, inimigos ocultos: botões, colar de contas, moedas e pequenas baterias, daquelas usadas em relógios de pulso, que podem provocar sufocamento. Para produtos de limpeza, um cuidado especial: jamais tirá-los das embalagens originais e passá-los para outras, como garrafas pet.
– As crianças associam garrafas pet com refrigerante, algo que se bebe, não com produto de limpeza, muitas vezes, com cheiro de suco.
E, outra: as embalagens originais têm as instruções corretas dos primeiros socorros em caso de ingestão – pontua o pediatra.