As crianças que passam mais de duas horas por dia em frente a telas têm menos capacidade cognitiva do que as que estão menos expostas a elas, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira (27) na revista britânica Lancet Child and Adolescent Health.
A pesquisa realizada por pesquisadores canadenses do Instituto CHEO, da Universidade de Ottawa e da Carleton University, analisou os dados de 4.520 crianças da faixa etária entre oito e 11 anos em 20 locais dos Estados Unidos.
Em média, essas crianças passavam 3,6 horas por dia em frente a uma tela de celular, tablet, computador ou televisão, acima das recomendações canadenses, que sugerem menos de duas horas em frente às telas, nove a 11 horas de sono e uma hora de atividade física por dia.
Entre todas as crianças que participaram do estudo, apenas um americano em cada 20 (5%) cumpre as três recomendações canadenses. E quase um terço (29%) não cumpre nenhuma: sono suficiente, tempo de tela limitado e atividade física.
Somente metade das crianças (51%) dorme o bastante, 37% passam menos de duas horas diante das telas e 18% praticam uma hora de atividade física diária, segundo os questionários preenchidos pelas famílias.
Depois de conduzir testes cognitivos sobre linguagem, memória, reação e concentração, o estudo revelou uma ligação clara entre o tempo passado diante das telas, o sono e o desempenho das crianças.
— Comprovamos que mais de duas horas em frente às telas para as crianças prejudica o seu desenvolvimento cognitivo — indica o médico Jeremy Walsh, do Instituto CHEO do Canadá, que estimula pediatras, pais, educadores e governantes a limitarem o tempo de exposição às telas das crianças e a converterem o sono em um assunto prioritário.
Entre os três critérios estudados — sono, telas e atividade física —, o descanso e a exposição às telas são os que têm mais consequências sobre as faculdades intelectuais das crianças, enquanto a atividade física por si só não tem um impacto na capacidade cognitiva, embora seja o fato mais importante para uma boa saúde.
As recomendações sobre o sono e a atividade física do Canadian 24-Hour Movement, publicadas em 2016, ajustam-se às da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas esta não faz nenhuma sugestão específica sobre as telas, assinala a pesquisa.
Pedagogos e cientistas alertam cada vez mais sobre as consequências da alta exposição às telas, que podem provocar dificuldades de concentração e até vícios.