Um desavisado que tenha passado próximo ao Auditório Araújo Vianna, no Parque da Redenção, na tarde de sábado (8) pode ter pensado que Porto Alegre recebia um artista de renome internacional, a visita de um Nobel da Paz ou uma conferência das Nações Unidas. As portas eram guardadas por seguranças engravatados e de semblante desconfiado. Caminhões com estações de transmissão via satélite circundavam o anfiteatro, dividindo espaço com vans executivas, ônibus de turismo, ambulâncias, bombeiros e carros de reportagem.
Quem conseguisse avançar os portões passaria por uma sala de imprensa apinhada, dezenas de técnicos organizando cabos e servidores e garotos na casa dos 20 anos fazendo selfies com ídolos ainda mais jovens. A atração, é claro, estava no palco: dez meninos jogavam em computadores sob uma narração apaixonada e idolatrados por uma multidão eufórica, colorida e fantasiada, que acompanhava tudo por telões. Eram os fãs do game League of Legends (LoL), que ignoraram a tarde de sol — convidativa a alguns para o chimarrão e o bate-bola ao ar livre — para assistir à final do Campeonato Brasileiro do jogo (CBLoL), que neste ano foi disputado na Capital gaúcha.
— Porto Alegre é uma das cinco cidades com maior engajamento em LoL do Brasil, ou seja, com mais gente que joga, participa de eventos e curte as novidades. É uma cidade muito forte na comunidade — diz Carlos Antunes, diretor de eSports da Riot Games, desenvolvedora do jogo e organizadora do evento.
Na partida, duas equipes de cinco jogadores cada escolhem entre 130 personagens para formar seu pequeno exército e tomar a base rival. O jogo é baixado gratuitamente no PC, e só pode ser jogado online.
Os 3 mil fãs que pagaram cada um R$ 80 pelo ingresso começaram a tarde assistindo ao show do rapper Emicida, que fez uma música especialmente para o jogo, e viram a equipe do KaBuM! faturar o titulo sobre a preferida do público, o Flamengo, ao vencer três das cinco partidas finais. Além de embolsar R$ 70 mil, os vencedores disputarão o mundial na Coreia do Sul em outubro, em busca de um título inédito para o Brasil — e um cheque de cerca de US$ 5 milhões. Exatamente: cinco milhões de dólares.
— Só muito fã, jogo todos os dias e estou adorando a energia desse pessoal todo que curte o game — disse o estudante de Direito Rodrigo Passos, 21 anos, que vibrava com as investidas do KaBuM! no território inimigo.
Em uma área ao ar livre na lateral do auditório, com foodtrucks e tendas de camisas, bonés e miniaturas de personagens, alguns fãs fantasiados também disputavam espaço — nas sombras. O sol sem nuvens e a temperatura de até 23ºC na Redenção pegou desprevenido quem se forrou com armaduras de espuma, capacetes e botas.
Ornamentada como o herói Viktor, um sujeito que anda com uma máscara prateada, cajado e uma espécie de terceiro braço que surge do ombro para dissipar raios, a estudante de pedagogia Bruna Kindlein, 21 anos, fazia sucesso entre os fãs, mas sofria com o calor.
— Comprei esta fantasia para homenagear um amigo que adora o personagem, mas hoje tá complicado de aguentar — disse.