A determinação do Ibama de abater aproximadamente 300 cervos na área do parque Pampas Safari, que funcionava em Gravataí até o ano passado, não significa que os outros cerca de 200 animais estão a salvo no local. Abandonados e correndo risco de contrair doenças – isso se já não tiverem sido infectados –, as espécies silvestres ainda podem estar sujeitas ao sacrifício enquanto não é encontrada uma solução para dar destino a elas.
Conforme o Ibama, ao decidir em comum – porém litigioso – acordo que o encerramento das atividades do parque seria a melhor solução, já que os responsáveis não teriam mais interesse em manter o empreendimento e teriam abandonado o cuidado com a área, o órgão federal estaria agindo para evitar o sacrifício de todos os animais ali presentes. Ao longo de toda esta quarta-feira (23), Zero Hora tentou entrevistar representantes da família Febernati, a administradora do Pampas Safari, mas não conseguiu contato em nenhum dos telefones e e-mails informados pelo parque em seu site e nos demais números associados a Ivone Febernati e suas filhas.
– Se o empreendedor não apresenta uma maneira de controlar isso (a disseminação de doenças como a tuberculose entre os animais), todos seriam abatidos. É uma decisão que está dentro da norma, vai ao encontro do controle da doença – afirma o médico veterinário Paulo Wagner, chefe do setor de Fauna Silvestre do Ibama/RS.
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Wagner alerta que os animais ali presentes continuam correndo risco. Sem o devido controle, as doenças podem se espalhar, podendo afetar inclusive a saúde humana.
Depois de auxiliar o Ibama nos testes que determinaram a contaminação generalizada dos animais no Pampas Safari, a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Estado se declarou contrária à transferência para outros zoológicos por conta dos riscos associados. Para a pasta, o isolamento das espécies ou o sacrifício sanitário seriam alternativas mais indicadas.
– Mesmo com o abate, a doença pode permanecer no ambiente, então é preciso fazer um vazio sanitário até que a doença não encontre mais animais – explica Marcelo Göcks, chefe da divisão de defesa sanitária animal da secretaria.
Para a professora de direito dos animais na Universidade Federal do Rio Grande (Furg) Bianca Pazzini, uma alternativa adequada seria o encaminhamento desses animais a um santuário, ou ainda a outros zoológico em atividade, mas apenas como uma passagem temporária. Ela aponta ainda que, na ausência de atuação por parte dos responsáveis pelo empreendimento, cabe ao poder público a tarefa de proteger as espécies selvagens.
– A falta de um Estado que deveria proteger acaba levando à desconsideração total da vida. O certo seria ter os órgãos públicos como guardiões, agindo para ao menos tentar impedir o sacrifício dos animais – garante Bianca, também professora na Fundação Escola Superior do Ministério Público.
Fundado em 1977 pelo industrial gaúcho Lauro Febernati, o Pampas Safari ainda abrigaria, conforme cálculos aproximados do Ibama – que afirma nunca ter recebido laudos completos informando o número de animais presentes no local –, cerca de 500 animais, incluindo os cervos, em maior número. Ao longo dos quase 40 anos de atuação, o desatualizado site do parque informa que teria recebido visita de mais de 2,5 milhões de pessoas.