Depois de diversas manifestações sobre a decisão de abater cerca de 300 animais do Pampas Safari, em Gravataí, a superintendente do Ibama no Rio Grande do Sul, Claudia Pereira da Costa, falou sobre a polêmica. Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade desta sexta-feira (25), ela rebateu as críticas feitas na quinta-feira pela deputada Regina Becker sobre o estado de saúde dos animais e a fiscalização do local.
– A deputada disse que não há comprovação de tuberculose. Mas temos laudos feitos pela Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS que garantem o diagnóstico – afirmou Claudia.
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Claudia também disse que a decisão de pedir o sacrifício dos cervos não cabe ao Ibama. O abate, segundo ela, foi uma opção dos proprietários e é autorizado legalmente, uma vez que eles não teriam demonstrado capacidade nem interesse de atender às exigências sanitárias em relação aos animais.
– Precisamos esclarecer que não foi o Ibama que solicitou o abate. Não nos compete. E mais: ninguém afirmou que todos os animais estão contaminados – disse Claudia.
Em entrevista a Zero Hora na quarta-feira (23), Claudia havia dito:
– Onde colocaríamos mais de 300 animais para tentar tratar a tuberculose? A doença é contagiosa e está sem controle. Tem de abater para proteger os animais que estão saudáveis, a população e os tratadores que estão lá. É uma questão de saúde pública. Já era para ter acontecido antes, mas havia resistência da família proprietária.
Nesta sexta, ela atribuiu o uso do pronome "nós" a uma "ânsia do momento":
– Tu estás em uma ânsia, está falando as coisas e daqui a pouco chega e diz "nós".
Sobre a frase em que disse que "já era para ter acontecido antes, mas havia resistência da família proprietária", a superintendente afirma que se referia ao fechamento do parque, não ao abate dos animais.
– É a resistência deles de fazer o tratamento. A própria dona Ivone (Febernati, administradora do parque) questionava o procurador federal dizendo que o Ibama estava mentindo, que os bichos dela não estavam doentes. Era contra o fechamento que eles resistiam.
Sobre a fiscalização do local, ela disse que ocorria com frequência, mas era prejudicada pelo fato de os responsáveis pelo parque se comprometerem em resolver os problemas apontados – sem, contudo, conseguirem.
– A fiscalização era feita normalmente. Acontece que sempre recebíamos relatórios com assinaturas de responsáveis técnicos até uma denúncia de que informações estariam sendo omitidas – disse.
Segundo a superintendente, após as acusações, Ibama e Secretaria de Agricultura autuaram o proprietário do parque em duas oportunidades solicitando providências. Uma das medidas pedidas foi a realização de exames em todos os cervos. Os doentes seriam sacrificados e os saudáveis seriam vendidos para abate e consumo humano, que ajudaria a custear o tratamento dos remanescentes.
– A lei de zoológicos faculta ao empreendedor a venda de excedente. Então, esses cervos seriam abatidos de qualquer forma, ou pela doença ou para consumo. Em fevereiro, o empreendedor chegou ao Ministério Público Federal e disse que não faria os exames em todos.
Para Claudia, a ideia que vem sendo sugerida de criar um "santuário" para os animais é boa, no entanto, esbarra na dificuldade de manutenção.
– É ótimo, mas não compete ao Ibama fazer isso.
Zero Hora tenta desde quarta-feira (23) entrevistar representantes da família Febernati, a administradora do Pampas Safari, mas não conseguiu contato em nenhum dos telefones e e-mails informados pelo parque em seu site e nos demais números associados a Ivone Febernati e suas filhas.
Ouça a entrevista completa:
O Ibama também produziu uma nota a respeito do Pampas Safari. Confira a íntegra abaixo:
O Pampas Safari Parque de Animais Selvagens, localizado em Gravataí (RS), solicitou o abate de cervos exóticos em razão de contaminação do plantel por tuberculose. O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT), estabelecido pela Instrução Normativa (IN) n° 19 de 2016, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), prevê o abate sanitário para evitar disseminação da doença.
Laudos do Laboratório de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) comprovaram a existência da epidemia animal, que não foi controlada pelo empreendedor, descumprindo normas dos órgãos ambientais e sanitários.
O abate humanitário é realizado em local licenciado com acompanhamento de veterinários da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul. O encerramento definitivo das atividades do empreendimento é acompanhado por um Grupo de Trabalho formado por representantes do Ministério Público Federal (MPF), das Secretarias de Agricultura e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado e do Ibama. O Instituto acompanha a ação com o objetivo de proteger os animais nativos não contaminados, servidores e a comunidade no entorno do estabelecimento.