Com os recentes aumentos no preço da gasolina e o impacto da greve dos caminhoneiros, cresce a procura dos motoristas por uma opção já adotada em milhares de veículos no Rio Grande do Sul: a conversão para o gás natural veicular (GNV), que mantém a opção de se usar gasolina ou etanol no veículo. A instalação custa aproximadamente R$ 4,5 mil e demora cerca de dois dias para ser feita em uma oficina credenciada junto ao Inmetro no Estado.
A falta de combustíveis tem feito mais condutores procurarem oficinas que façam essa adaptação. Em Porto Alegre, a Instal GNV, uma das empresas certificadas pela Sulgás, viu triplicar a procura enquanto se prolongava a paralisação dos caminhoneiros. O diretor da empresa, César Pires Vargas, alerta, porém, que o GNV não é uma solução imediata para o desabastecimento, e sua instalação deve ser sempre ponderada.
— O gás não é a solução para todo mundo. Para começar, é preciso ter algum outro tipo de combustível no tanque para dar a partida no motor. E a conversão só compensa financeiramente para quem roda muito — explica Vargas.
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Também em Lajeado, a procura pela instalação do GNV aumentou. Michel dos Santos Costa, dono da Oficina Multi Auto, explica que a demanda vem não só de proprietários de carros mais "gastadores", mas também de quem trafega em compactos. Nesses casos, a economia deve ser calculada na ponta do lápis, mas também pode valer a pena. Conforme a Sulgás, empresa responsável pela venda e distribuição de gás natural no Estado, a economia em relação à gasolina fica entre 60% e 65%.
Quem roda mais
A vantagem de ter um veículo adaptado para o GNV é maior para quem roda mais. Esse proprietário terá de volta mais rapidamente os gastos com a conversão em forma de economia. Isso deve ser levado em conta na avaliação para saber se vale a pena ou não investir na adaptação. Com um custo em torno de R$ 4,5 mil, o retorno do investimento pode vir em nove meses para quem anda 100 quilômetros por dia, por exemplo. Para esse motorista, a economia por mês com o gás natural pode ficar perto de R$ 500.
Mas quem olhar só para o bolso e para os preços nas bombas de gasolina na hora de decidir pode se arrepender. A opção traz consequências que precisam ser bem avaliadas. O cilindro de gás segue tirando espaço do porta-malas, problema a ser lembrado naquela viagem de férias. Subir uma lomba, por exemplo, pode ficar mais difícil porque há perda de potência no veículo. Mas a perda da garantia, entretanto, é a consequência mais relevante para os veículos novos.
– Há conversas em andamento com algumas concessionárias para avançarmos nisso, mas ainda nada certo. Para os veículos novos, a conversão para o GNV ainda provoca a perda da garantia de fábrica – alerta Lima.
Também não podem ficar longe da vista do proprietário as vistorias e taxas do Detran/RS. Como se trata de uma alteração das características do veículo, a mudança precisa ser antes autorizada pelo órgão de trânsito. E, depois de executada, o veículo deverá passar por nova revisão.
A melhor escolha para o bolso
Há cinco anos, o motorista executivo Leandro Laurino, 42 anos, morador da zona leste da Capital, optou pela conversão ao GNV. Mas a decisão não veio por usar o carro próprio para trabalhar. A motivação surgiu ao observar o quanto se gastava nos carros a gasolina em que atuava. Ele quis trazer essa vantagem para a vida pessoal. Quando a onda dos aplicativos de transporte nos smartphones chegou, ele percebeu que tinha a faca e o queijo na mão. Atualmente, roda pelo menos 200 quilômetros por dia no seu Nissan Livina 1.6, carro que foi adaptado em junho de 2017. Antes, teve um Ford Fusion 2.3 que também circulava com gás natural.
– Abasteço quase todos os dias porque em Porto Alegre tem bastante posto, mas o gasto acaba sendo de no máximo R$ 30. Sei que seria muito mais se fosse com gasolina – conta Laurino.
Ele conta que, entre as mudanças percebidas, está a manutenção das velas de ignição, que ficou um pouco mais frequente, a cada 20 mil quilômetros. De resto, relata não sentir perda de potência por ter o kit de quinta geração.
Perguntas e respostas sobre o GNV
O que é GNV?
GNV é a sigla para Gás Natural Veicular. É o mesmo gás natural usado em residências, comércio e indústria (não confunda com o GLP, o gás de cozinha), mas aplicado sob alta pressão em veículos através de cilindros especiais. É um combustível alternativo.
É seguro?
Se for realizada a instalação adequada, sim. Os cilindros de armazenamento são muito mais resistentes do que botijões, tornando praticamente nula a chance de vazamento.
Qual é a economia na hora de abastecer?
Com os preços atuais, pode chegar a 65% em relação à gasolina e a 75% em relação ao etanol. Abastecendo R$ 20 de GNV, é possível rodar cerca de 100 quilômetros, quase o dobro do que se roda abastecendo com gasolina.
Quanto custa fazer a conversão?
Usando como referência o kit mais atual, de quinta geração, o valor para fazer a conversão fica em torno de R$ 4,5 mil. Mas, de acordo com o tipo de veículo, esse custo pode ser um pouco maior ou menor. Não se esqueça das taxas do Detran.
Há outros benefícios além da economia?
A combustão do GNV tem baixíssimo nível de resíduos, o que aumenta a vida útil do carro. Também é mais seguro porque, durante o abastecimento, o gás não entra em contato com o ar, evitando risco de explosão. O GNV é 100% puro, sem risco de sofrer adulteração.
Em quanto tempo se tem o investimento de volta?
Varia de acordo com o uso do veículo. Quem circula mais verá o investimento voltar mais rápido. Para um automóvel que percorre em torno de 100 quilômetros por dia (equivalente a 3 mil quilômetros por mês), esse investimento pode ser pago em até nove meses. Dependendo da oficina instaladora escolhida, pode-se parcelar o pagamento.
Onde se faz a conversão para GNV?
O consumidor deve escolher somente as instaladoras homologadas pelo Inmetro, lista que pode ser conferida neste site. Além disso, a Sulgás possui programa de certificação de instaladoras, chamado Instaladora Nota 10. A lista das empresas que participam desse programa está neste link.
Antes de decidir, confira os pontos negativos:
- Mesmo com avanços na tecnologia do kit de quinta geração, ainda há perda de potência nos carros com o GNV. Essa perda é mais sensível nos veículos de menor potência.
- A perda de espaço para bagagem por conta da instalação do cilindro precisa ser levada em consideração. Em alguns veículos, como a Chevrolet Spin, a questão foi resolvida com a instalação do kit embaixo do veículo.
- Péssima notícia para donos de veículos novos: mesmo com certificado do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), a conversão faz o veículo perder a garantia da montadora. Discussões estão em andamento com algumas concessionárias para reverter isso, mas não há prazo para avanço.
- É preciso lembrar que o GNV não é encontrado em todos os postos de combustíveis. Isso exige mais planejamento na hora de abastecer. Segundo a Sulgás, há 83 postos oferecendo o gás em 29 cidades gaúchas.
- Deve-se levar em conta a documentação necessária junto ao Detran/RS, porque se trata de uma alteração das características do carro. O dono deve levar o veículo para vistorias no órgão e nada é de graça. Para um veículo de passeio com até 15 anos de fabricação, as taxas junto ao Detran custam cerca de R$ 470.
O passo a passo da conversão:
- Solicitar em um Centro de Registro de Veículos Automotores (CRVA) a autorização para alterar combustível.
- Encaminhar o veículo para adaptação em oficina credenciada junto ao Inmetro.
- Após convertido, o veículo deve ser inspecionado em organismo de inspeção credenciado pelo Inmetro, com a autorização do Detran, a nota fiscal do serviço e o Atestado de Qualidade do Instalador Registrado para a obtenção do Certificado de Segurança Veicular (CSV).
- De posse do CSV e da nota fiscal do equipamento, deverá reapresentar o veículo no CRVA para o registro da alteração do combustível.
- Registrada a alteração de combustível, o proprietário retornará ao organismo de inspeção para colocação, no para-brisa, do selo que permitirá o abastecimento.
Fontes: Detran/RS e Sulgás
* Colaborou Guilherme Justino