Rússia sacolejou o rabo e forcejou a coleira até que pudesse chegar perto o suficiente de Adriano. Ele não conteve a emoção: recebeu a tão esperada visita de braços abertos e com um sorriso especial no rosto. Após três meses de separação, a cadela pinscher e seu dono se reencontraram na manhã deste sábado, no terraço do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre.
Adriano Raupp, 35 anos, está hospitalizado desde dezembro do ano passado, devido a complicações respiratórias. No Centro de Cuidados Intensivos do hospital, ele recebe o carinhos dos pais, das irmãs e demais familiares que se revezam e não deixam o paciente nem por um minuto sozinho. Claro que isso conforta, e muito, a distância de casa e da rotina. Mas faltava ainda receber a visita de Rússia, que sente a falta de Adriano e vai frequentemente ao quarto dele, na residência em Alvorada, à procura do dono.
A saudade acumulada era tanta que, nesta manhã, Adriano foi recebido por uma sequência sem-fim de lambidas, logo que pegou Rússia no colo.
– Estou muito emocionado – limitou-se a dizer.
– Estes dois (o filho e Rússia) se amam, são muito companheiros – complementou a mãe, Eni, comovida com a cena.
– É a visita mais especial que ele poderia receber – arriscou Simone, uma das irmãs de Adriano.
– E é mesmo – confirmou o paciente, arrancando gargalhadas da família. Logo reparou: – Todas as visitas são especiais.
Mas não adiantou muito.
– Não tem problema, Adriano. Todos sabemos que ela é tua irmã preferida – brincou Simone.
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O tão esperado encontro faz parte de um conjunto de ações do Hospital Mãe de Deus, que visam humanizar o atendimento aos pacientes que precisam ficar mais tempo internados, como é o caso de Adriano e Neusa Lopes Wocjciechovski, 66 anos, que também recebeu os afagos do pet, o linguicinha Scott, na manhã deste sábado.
– Receber o carinho dos animais de estimação traz motivação para os pacientes seguirem o tratamento e terem vontade de se recuperar logo para voltar para casa – afirma a enfermeira Damisy Carvalho, uma das responsáveis por organizar as visitas.
De acordo com a coordenadora de atendimento do hospital, Andresa Forti, esta não é uma ação isolada. Na Unidade de Cuidados Especiais (onde Adriano e Neusa estão internados, sem previsão de alta), os pacientes podem receber os familiares a qualquer horário do dia. Ali, as datas comemorativas merecem festas. São organizados chás de fralda para as mães e, em alguns dias, há música nos corredores e apresentações de teatro.
– Queremos mostrar que as relações hospitalares podem ser menos autoritárias. O paciente tem de ter voz e ser o centro do cuidado. Ele é quem tem que dizer quais são suas necessidades e, na medida do possível, o hospital tem de se adequar para fazer o melhor para recuperação dele. Essas ações de humanização fazem do ambiente um lugar um pouco mais leve – afirma Andresa.
Em breve, o terraço do quarto andar, onde foram realizados os encontros com os animais de estimação, passará por uma reforma. O espaço que tem vista para a Avenida José de Alencar deve virar uma "praça", com instalação de grama sintética, plantas de verdade, bancos e equipamentos que ajudarão na reabilitação motora dos pacientes, como barras de ferro e pesos. Será um lugar de convívio, onde pacientes também poderão pegar sol, além de receber visitas, como as de Rússia e Scott.
* Zero Hora