Entre os desafios dos prefeitos que assumirão o cargo em 1º de janeiro de 2017, está o de ampliar o tratamento de esgoto. Um tema que normalmente não recebe prioridade em razão das dificuldades financeiras e da necessidade de destinar recursos para outras áreas fundamentais – como saúde, segurança e educação.
Em 2013, a Rádio Gaúcha mostrou na série de reportagens “Rios Poluídos” que a média de tratamento de esgoto era de 5,19% nos municípios que despejam seus efluentes nos três rios mais poluídos Rio Grande do Sul e que estão entre os dez mais poluídos do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De barco pelos rios Caí, Gravataí e Sinos, na época, foi possível perceber o grave problema ambiental e de saúde pública, com esgoto sem tratamento, animais mortos e até pedaços de carros nas águas.
Nesses três anos, pouca coisa mudou em alguns municípios e nada em outros. A média de tratamento, que era de 5,19%, subiu para os tímidos 8,73%. Dos 57 municípios banhados pelos rios Caí, Gravataí e Sinos, 43 seguem despejando esgoto sem qualquer tratamento nos mananciais. É como puxar a descarga de casa e tudo ir direto para as águas – que depois precisarão ser tratadas para consumo.
A Companhia Rio-grandense de Saneamento (Corsan) atende a maioria dos municípios banhados pelos três rios mais poluídos. Sobre o tímido aumento do tratamento de esgoto, o presidente da companhia, Flávio Presser, justifica que o dinheiro para investimento está disponível, mas que projetos atrasaram no governo anterior.
– A execução, até nós chegarmos aqui, tinha baixo volume. Hoje, desse total financiado, nós temos 40% executado. Foi feito R$ 1 bilhão em obras e há R$ 2 bilhões por fazer.
A meta da Corsan para o Estado é chegar em 2019 com 30% do esgoto tratado. Em 2030, atingir 70%. Na Região Metropolitana, o objetivo é chegar em 2028 com 100% de tratamento.
Presidente do Comitê do Lago Guaíba, o engenheiro químico Manuel Salvaterra afirma que a poluição dos rios dos Sinos e Gravataí contribui para a situação preocupante do lago.
– Embora esses rios, que estão entre os 10 mais poluídos do Brasil, tenham vazão muito pequena para o lago, de menos de 5%, eles são os principais poluidores do lago – afirma.
A engenheira e consultora ambiental Deisy Maria Andrade Batista, diretora da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental no Rio Grande do Sul (Abes-RS), ressalta que apesar da tímida elevação efetiva no tratamento do esgoto pelos municípios, tem aumentado a procura por projetos para tentar amenizar o problema.
– Nos últimos tempos tem se feito muitos investimentos, procurando muito mais projetos, focando muito mais no sistema de esgotamento sanitário. Estava um pouco esquecido.
O engenheiro agrônomo Alexandre Bugin, presidente da Abes-RS, lembra que o cuidado com os efluentes precisa ser integrado. Ou seja, pouco adianta uma cidade fazer a sua parte, se as demais não contribuem.
– Não adianta termos um sistema de tratamento de esgoto eficiente, que despeja na entrada da Lagoa dos Patos uma água de boa qualidade. No entanto, os pontos de captação que estão sendo utilizados recebem uma carga orgânica muito alta ainda dos rios Gravataí e Sinos.
O professor Carlos André Bulhões Mendes, vice-diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que por mais que Porto Alegre tenha investido no tratamento de esgoto, a situação ainda é crítica.
– A água que está na nossa frente no Guaíba, belíssimo pôr-do-sol e tudo mais, ela recebe contribuições dos rios Gravataí, do Sinos, do Caí, do Taquari e do Jacuí. E o tamanho da área de contribuição desses rios equivale a uma Holanda. Por mais que Porto Alegre faça o seu dever de casa e chegue a 100% do esgoto tratado, ainda sim a qualidade de água do Guaíba sempre deixa a desejar.
Alexandre Bugin lembra que a média de tratamento de esgoto no país também é muito baixa, com algumas exceções, como regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Segundo ele, é necessário o tratamento de todo o esgoto do país.
– O que nós temos é a necessidade da universalização do tratamento do esgoto, que é um objetivo em nível de Brasil e de todos que atuam no setor de saneamento – completa.
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Confira um balanço exclusivo do Programa Integrado Socioambiental (Pisa), que fez Porto Alegre saltar de 18% para 66% do esgoto tratado e com capacidade instalada para chegar a 86%.
E ainda. A visita que a Rádio Gaúcha fez à estação construída para tratar a maior parte do esgoto da capital gaúcha.
*GAÚCHA