Especialista em direito digital, o advogado Maurício Brum Esteves afirmou que o limite de dados na internet brasileira gerará uma estagnação na inovação tecnológica, além de restringir o livre acesso à rede de quem não terá dinheiro para pagar pelos melhores planos. Esteves participou na manhã desta terça-feira de uma conversa ao vivo pelo Facebook de Zero Hora, com a participação dos leitores.
Leia mais:
20 perguntas e respostas sobre a polêmica do limite de dados
OAB diz que resolução da Anatel "é inaceitável"
Qual a sua posição sobre o limite de dados na internet fixa?
Isso prejudica o mercado como um todo, porque os provedores de conexão, que deveriam apenas fazer a venda da velocidade e do acesso à internet, vão passar a ter posição de restrição dos hábitos do usuário. O usuário vai ter de mudar seu uso dependendo de sua condição financeira. Conseguirão navegar de forma mais livre apenas aqueles que têm condições financeiras. O acesso à internet não será como hoje, em que conseguimos conectar em qualquer café.
Qual o impacto dessa mudança?
Isso vai trazer transformações bastante significativas na forma que os usuários acessam a internet e compartilham conhecimento. Cada vez mais, as novas tecnologias vêm demandando maior quantidade de dados, então a tendência imediata é uma estagnação da inovação, tendo em vista essa limitação de dados. Isso seria o mesmo que dizer que o Brasil ficará estagnado em termos de inovação em altas tecnologias.
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) diz que a cobrança por franquia é legal, mas entidades de defesa do consumidor afirmam que a medida vai contra o Marco Civil da Internet e, por isso, é ilegal. Qual a sua interpretação da lei?
Entendo que o limite de dados vai contra os fundamentos do Marco Civil da Internet, que adota uma postura de liberdade de acesso à rede, de forma ampla e sem segmentação por classe ou condição socioeconômica. Apenas por esse prisma, o Marco Civil impossibilita o limite de dados. O posicionamento da Anatel deveria ter levado em conta uma discussão com a sociedade como um todo.
A Anatel também afirmou que não vê ilegalidade no corte da internet após o consumo total da franquia, enquanto entidades de defesa do consumidor afirmam que essa suspensão só pode ser feita em casos de atraso no pagamento. O que diz o Marco Civil da Internet?
Quando o Marco Civil da Internet fala dos direitos do usuário, determina que as operadoras não podem fazer o corte (pelo limite de dados). Além disso, há o direito do usuário à manutenção da qualidade do acesso, o que significa a manutenção da velocidade.
Se minha internet for cortada por limite de dados, o que posso fazer?
Procurar o Procon, que tem uma organização específica para proteger e orientar os usuários, ou um advogado.
Tenho um plano ilimitado. Ele pode ser modificado sem que eu aceite?
Os contratos não podem ser alterados de forma unilateral. O que acontece com frequência é que as operadoras mudam pacotes de forma rotineira, então contratos muito antigos acabam ficando obsoletos. Assim, as empresas acabam obrigando o consumidor de forma indireta a fazer a alteração, ofertando produtos extras ou demonstrando que o serviço antigo não terá mais assistência técnica.
As operadoras têm direito de dizer que o serviço antigo acabou?
Elas não podem deixar de prestar o serviço de forma automática. O que acontece é que as operadoras acabam criando pequenos empecilhos na execução desse tipo de serviço, como vinculá-lo a aparelhos que não são mais fabricados ou que não funcionam bem, obrigando os usuários a mudar de planos.
Qual a forma do usuário impedir que o limite de dados ocorra?
Participar de mobilizações populares, buscar informações qualificadas e levar o debate ao meio político, para atingir os órgãos responsáveis por essas decisões.