Difícil ter alguma turma na escola em que os pais das crianças não tenham formado um grupo no WhatsApp. Inclusive, esses grupos nem sempre são apenas do colégio, mas também congregam pais que se conheceram por causa das atividades extraescolares dos filhos, como esportes, dança, música... Não se discute a utilidade de muitas das mensagens compartilhadas e as soluções ágeis e relevantes viabilizadas pela tecnologia e pela saudável troca de informações.
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Mas, geralmente, o que mais falta nesses contatos é o velho e sempre requisitado “bom senso”. Conversei com pouco mais de meia dúzia de mães próximas, com filhos de todas as idades, para relatar o tipo de mensagens que mais rendem indignação e/ou reflexões sobre sua real utilidade e consequências, principalmente para os rebentos. Obviamente, nomes e detalhes que possam revelar a identificação foram alterados para não criar constrangimentos, até porque o objetivo é apenas auxiliar no debate se estamos, mesmo, fazendo bom uso da grande ferramenta que temos a nosso alcance. Selecionei os três temas que mais apareceram nas conversas (os nomes citados são fictícios).
Começar na escola é uma transição difícil para pais e filhos
1. Mensagens sobre tarefas
– Vocês sabem se a página 121 do livro de Literatura Brasileira foi feita? (e a reprodução da página, só com a primeira resposta da filha)
– A Maria Antonieta me falou que tem prova de Língua Portuguesa na terça. E não anotou nada na agenda e nem no caderno. Confere?
– Gurias, tem alguma matéria dada no caderno de Inglês? É que o Lucrécio não anotou nada ou quase nada...
– O Napoleão me disse que o professor falou que dava para terminar o tema em casa. Posso confiar nele?
– Como é que se faz mesmo esta questão de raiz quadrada? (e a reprodução da questão no livro)
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A reflexão: Virando a agenda escolar do seu filho, babá ou secretária (o), você não está tirando dele a possibilidade de se desenvolver em autonomia, independência e, principalmente, responsabilidade? Não confiamos em sua capacidade de anotar os deveres e as tarefas ou de estudar para as provas? Que recado você está dando para o pequeno quando, todo dia, consulta as mães para ver se ele conseguiu copiar corretamente a tarefa?
E, ou eu não entendi bem, ou há pais que ainda fazem o tema para os filhos ao invés de orientá-los nas dificuldades. Daqui a pouco, estamos criando robôs que reproduzem idênticas respostas, fornecidas em grupo dos pais, totalmente incapazes de solucionar, sozinhos, questões nem tão complexas assim. É justo tirar deles a oportunidade de aprender com os próprios erros? Você tem certeza que esse acompanhamento é o melhor que você pode fazer pelo seu filho?
2. Mensagens sobre reclamações da escola e/ou do professor
– Viram que a outra turma já recebeu o calendário das atividades comemorativas do trimestre? E, os nossos, sempre os últimos em tudo...
– Viram a lembrancinha do Dia das Mães da outra turma? Bem mais criativa do que a nossa...
– Estou sem vontade de mandar dinheiro para o presente das mães. O quadrinho que recebemos até que era legal. Agora, aquele presente do ano retrasado, achei horroroso. Bem que a escola poderia valorizar as mães...
A reflexão: Em alguns grupos, os professores e a direção da escola são alvos de duras críticas. Pais questionam se o método, as provas, a condução das aulas são os mais adequados. A pergunta é: o que está faltando para levar essas questões diretamente para o professor ou direção? Não seria o fórum mais eficaz e ético para tratar desses assuntos?
3. Sobre conteúdo totalmente alheio à escola: mensagens de bom dia, orações, mensagens de reflexão, notícias do dia (algumas falsas) e debates a favor e contra de qualquer coisa, vídeos e fotos engraçadinhas ou até pornográficas, “memes” virais, balcão gratuito de classificados (venda de roupas, de artesanato etc.)
Neste item, vou poupar os leitores das mensagens, mas fica a sugestão de que todos reflitam, antes de enviar a mensagem, sobre o real objetivo do funcionamento da formação de um grupo de pais da escola. Práticas como as citadas acima talvez não soem estranhas nem inconvenientes a grupos familiares ou até de amigos mais próximos, mas, em um grupo formado em função da escola, é, no mínimo, sem noção.
Agora, se você achar tudo isso um grande exagero ou falta de assunto da colunista, passe a observar em números de telefones que, sem nenhuma explicação aparente, desaparecem do grupo, como em um passe de mágica. Saem sorrateiramente para nunca mais voltar. Observe também aqueles números de mães ou pais que nunca participam, nunca enviam mensagens ou só fazem isso em algum episódio de extrema relevância.
Aí você se questiona: se ficam tão incomodados e indignados com essas mensagens, por que não saem do grupo, então? Talvez porque confiem na capacidade do ser humano de evoluir ou porque não querem estar distantes quando algum assunto de real importância seja compartilhado, mesmo que acreditem que isso possa nunca acontecer.
Posso contar para vocês que recebemos dezenas de mensagens pedindo que tratemos desse assunto aqui. A eles, sugerimos, também, que promovam o debate dentro do próprio grupo, diretamente para os pais e mães envolvidos. Uma das mães com que conversei contou que fez um pedido para que determinado tipo de assunto não fosse mais tratado no grupo da escola, e assim se fez, sem mágoas e mimimi. Fica a dica.