Autor da proposta original que autoriza o uso da fosfoetanolamina por pacientes diagnosticados com tumores malignos, o deputado federal Weliton Prado (PMB-MG) comemora a boa recepção do projeto entre os colegas. O parlamentar relata ser contatado, no gabinete, por inúmeros pacientes em estado grave, desenganados pelos médicos, apelando pela livre produção e comercialização da substância. O texto agora será apreciado pelos senadores, a quem Prado solicitará urgência.
– Vou cuidar desse projeto como se fosse um filho. O câncer não espera – assegura.
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Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Como foi possível desobstruir a pauta da Câmara para a votação do projeto?
É um apelo muito grande, sensibiliza as bancadas. O Dia Interncional da Mulher contribuiu de forma significativa. Logo num dia tão simbólico quanto esse, a Câmara não vai votar nada? Da fosfoetanolamina, temos só relatos de eficácia, de redução dos tumores. Fui a São Carlos (SP), estive com o professor Gilberto (Gilberto Orivaldo Chierice, que desenvolveu o composto), conversei com muitas pessoas que fizeram uso da substância. Só traz eficácia. É como se a fosfoetanolamina marcasse as células cancerígenas e ficasse mais fácil para o organismo fazer a identificação e o combate. Em muitos casos, diminui o tumor de forma significativa, possibilitando que o paciente faça uma cirurgia. Ouvi relato do deputado Celso Russomanno (PRB-SP), que entrou na Justiça para o pai ter acesso e conseguiu. Diminuiu muito o tumor, ele saiu do respirador e teve um final de vida com muito mais qualidade e dignidade. Ele veio a falecer, mas melhorou de forma significativa.
O senhor se convenceu da eficácia?
Conversei com dezenas e dezenas de pessoas que tomaram, ouvi inclusive relatos de cura. Vou solicitar ao Senado que apresentem um pedido de urgência e vá o mais rápido possível para o plenário, sem passar por comissões. Vou cuidar desse projeto como se fosse um filho. O câncer não espera. O que os cientistas querem, e que a gente quer também, é que sejam realizados os testes clínicos, para comprovar a eficácia. Estou otimista. A fosfoetanolamina, para os pacientes desenganados, é a única esperança. A gente não tem o direito de tirar essa esperança. As pessoas têm de ter o direito de acesso à pílula.
Mas o projeto permite o acesso mesmo antes de concluídas as pesquisas. O senhor não acha arriscado?
Até agora não se teve nenhum relato de que fizesse mal para a saúde. A quimioterapia, a radioterapia enfraquecem muito o organismo e podem trazer vários problemas. A fosfoetanolamina é distribuída há mais de 20 anos, não é uma coisa nova. Só teve essa polêmica porque o professor se aposentou, a USP parou de distribuir e teve essa enxurrada de ações na Justiça. A Anvisa já sabe da fosfoetanolamina há muito tempo e não tomou nenhuma providência. O cigarro, que é uma substância cancerígena, é liberado, e para uma substância que há muito tempo se discute que faz bem à saúde não tem vontade para que sejam realizados todos os testes clínicos. Com certeza tem aí um forte interesse econômico. A indústria farmacêutica movimenta bilhões. Defendo que esse medicamento seja distribuído gratuitamente ou pelo menor preço. Não se justifica uma multinacional querer ter lucros vultosos em cima de uma patente brasileira sem fins lucrativos.
Vocês não temem consequências negativas a longo prazo?
Ainda não foram comprovadas a eficácia e a segurança para os humanos. Como eu te falei, a única esperança de vida das pessoas nessa condição é essa substância. O que as pessoas desenganadas vão ter a perder? Até agora não tivemos relatos de que viesse a fazer mal. O que tem que ter é uma responsabilidade muito grande. A pessoa tem que assinar um termo de consentimento e responsabilidade. O medicamento não é regularizado ainda, e o paciente assume todos os riscos. A lei tem validade até serem realizados os projetos de licença para comprovar a eficácia. Se a Anvisa disser que o remédio não tem nenhuma eficácia, automaticamente para a distribuição, a lei não tem mais efeito.
Como o senhor encara as manifestações da comunidade científica?
Pesquisadores se mostram fortemente contrários ao uso antes da realização de estudos sérios e consistentes. Meu chefe de gabinete faleceu com câncer aos 32 anos. Conversei com alguns médicos, eles foram categóricos: não existe nenhum medicamento para ele. Depois vi que isso não é verdade. O interesse econômico nesse setor é muito grande, o corporativismo é muito grande, a quimioterapia e a radioterapia movimentam bilhões. Eles não querem deixar de ganhar. Vi muita hipocrisia. Médicos dizem que não podem receitar (a fosfoetanolamina) porque não foi aprovada. Mas aí ele está com câncer, a mulher ou o filho estão com câncer, e ele é o primeiro a ir lá buscar a substância. Cansei de ouvir isso. É uma contradição muito grande.