No Facebook, Paty Luxury informa aos amigos que trabalha na UTI neonatal de um renomado hospital. Ela já saiu da instituição há algum tempo, mas para todos os efeitos "esqueceu" de atualizar a página. Para os pais, diz que paga sua faculdade particular trabalhando como auxiliar de escritório. Seu namorado jura que ela trabalha como assessora de um empresário. Quando perguntam como está o seu serviço, ela sempre desconversa:
- Tá ótimo! E o teu, como é que tá? Já voltou de férias?
Desde que começou a fazer programas, há cinco anos, Paty se equilibra nesta rede de mentiras cotidianas. Criada em uma família de classe média, foi educada em uma das mais tradicionais redes de ensino da Capital. Em um surto de rebeldia adolescente, acabou saindo da casa dos pais, engravidou e começou a se afastar da família.
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Foi quando seu bebê passou a sofrer de distúrbios respiratórios que Paty deu início aos programas. Cada consulta particular da menina custava R$ 200, seu salário em uma operadora de telefonia não chegava a R$ 700. Na mesma época, uma parente chegou contando que uma conhecida organizava festinhas de meninas com um delegado. A participante ganhava R$ 150 por uma noite - o pré-requisito era ficar sem roupa, mas não precisava fazer sexo.
Duas festinhas com o delegado por mês reforçaram seu orçamento familiar. Seis meses depois, Paty ouviu da moça organizadora dos encontros:
- Hoje saí e ganhei R$ 500.
- Num dia? O que tu tá fazendo? - interessou-se.
O trabalho era em uma boate do Centro. Em um dia, Paty ganharia quase o seu salário. Mas seria capaz de transar com um homem que nunca viu? O que a família iria pensar? Os dilemas a consumiram por um mês, até criar coragem para acompanhar a amiga. Na primeira noite, chegou lá de calça jeans e blusinha, sapato baixo, como se estivesse indo a um escritório. Ao encontrar as novas colegas de shortinho, sentiu-se deslocada:
- Eu não sabia o que fazer, parecia uma barata tonta.
Recusou os primeiros interessados. Depois de alguns copos de cerveja, levantou-se decidida. Subiu para o quarto com seu primeiro cliente, um gordinho na faixa dos 30 anos.
- Foi horrível. Era como se estivesse saindo do corpo, aquela experiência de quase morte. Eu nunca tinha transado de luz acesa. Parecia que eu ia perder a virgindade - conta.
Nesta boate do Centro, ela conheceu prefeitos do Interior, funcionários da Assembleia Legislativa, homens casados. À medida que ganhava experiência, Paty começou a anunciar suas fotos na internet, e hoje trabalha para um site focado em executivos de alto nível. Por programa, cobra R$ 300. Entre seus clientes fixos, há um senhor de 92 anos.
Para não levantar suspeitas que maculem a imagem de mãe de família e estudante dedicada, só faz programas em horário de expediente. Estuda pela manhã e, à tarde, encontra-se com clientes pré-agendados em hotéis e motéis. Volta para casa sempre nos mesmos horários, como se batesse cartão. Antes das 21h já está cuidando da filha e à espera do namorado.
Se ele liga quando ela está num programa, envia uma mensagem depois em tom de advertência: "Olha, eu tava conversando com um cliente, não posso falar contigo". Jura que ele, com quem está há mais de um ano, nunca desconfiou.
- Ele é bem tranquilo, é até meio tapadinho - diz.
Mesmo com todo o cuidado, já sofreu reveses. O momento mais tenso foi quando deu de cara com um amigo da família num programa. Ao entrar no carro que a conduziria ao motel com dois homens, viu que o cliente no banco de trás era um velho conhecido, sócio de um familiar.
Paty não sabia o que fazer. Fugir ou abrir o jogo?
- Oi, tu lembra de mim? - se entregou.
O amigo ficou surpreso, mas ainda tentou insistir no programa.
- Não vai dar, tu me viu pequenininha, bebê de colo - refutou.
Ele ainda tentou barganhar, ameaçando contar tudo para a família. Paty começou a gravar com seu celular a conversa.
- Se tu ferrar com a minha vida, eu ferro com a tua - respondeu para o velho conhecido da família, um servidor público casado, com dois filhos.
O segredo permanece preservado.
*
"Nunca desconfiaram, até porque meu perfil não condiz com a imagem de uma garota de programa. Não imaginam que ela pode estar trabalhando num hospital, na faculdade, levando o filho à escola." Paty Luxury