Iniciada em um posto de gasolina (de onde surgiu o nome) em março de 2014, a Operação Lava-Jato chegou à nona fase nesta quinta-feira. O objetivo central da operação comandada pela Polícia Federal é investigar um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras e grandes empresas brasileiras. Segundo a PF, 11 novos operadores e 26 empresas, além da BR Distribuidora, foram citados na nona fase.
Nesta última etapa, foram decretados 40 mandados de busca e apreensão, três de prisão temporária, um de prisão preventiva e 18 de condução coercitiva (quando a pessoa é levada para prestar depoimento e depois é liberada). .
Em um desses mandados, o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, foi levado para prestar depoimento na superintendência da PF em São Paulo. Ele saiu sem falar com a imprensa.
Vaccari foi citado em depoimentos da Operação Lava-Jato, entre eles os prestados pelo doleiro Alberto Youssef, como operador do esquema de corrupção na Petrobras, que envolvia repasses de recursos desviados de grandes obras da estatal para o partido. Em nota, o PT negou as acusações, as quais classificou como "sem provas".
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O principal foco de atuação da PF nesta etapa é uma grande empresa de Santa Catarina. Das quatro prisões decretadas, três foram cumpridas no Estado e os três alvos têm ligação com a Arxo, de Piçarras, no litoral catarinense. A empresa, que produz equipamentos de armazenagem e transporte de combustíveis, tem contratos com a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras.
O sócio da Arxo, Gilson João Pereira, e o diretor financeiro da empresa, Sérgio Ambrósio Marçaneiro, foram presos em Itajaí (SC). Outro sócio da empresa, João Gualberto Pereira, deve se apresentar à PF em Curitiba (PR) na tarde de sexta-feira, quando chegar de viagem dos Estados Unidos. A quarta pessoa com prisão decretada, que é da Bahia, seguia sendo procurada na quinta-feira.
A nona fase da Lava-Jato foi batizada de "My Way" (Meu Jeito), em referência a como um dos delatores do esquema, Pedro Barusco, se referia ao ex-diretor da Petrobras na área de Serviços, Renato Duque, acusado de participar do esquema de corrupção na empresa.
As informações de Barusco sobre o esquema de corrupção na diretoria de Duque, somadas às de uma nova testemunha ligada a uma fornecedora da petroleira, foram fundamentais para a investigação iniciada nesta nova etapa da operação. Apesar da "homenagem", Duque não é alvo dos mandados cumpridos hoje.
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Relembre as outras fases
A operação iniciou em 17 de março em seis estados e no Distrito Federal, com a prisão de pelo menos 24 pessoas, entre elas o doleiro Alberto Youssef. Dias depois, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa foi preso pela Polícia Federal. Em abril, ambos foram indiciados por lavagem de dinheiro, sob a acusação de terem desviado recursos da Petrobras. Os dois foram figuras centrais no início da Operação Lava-Jato.
Em agosto, Paulo Roberto Costa aceitou um acordo de delação premiada com a Justiça. Os depoimentos do ex-diretor causaram grande impacto na investigação. Ele revelou que a compra da refinaria de Pasadena envolveu um esquema de corrupção com pagamento de propinas, sendo US$ 1,5 milhão para ele (R$ 3,8 milhões). Em setembro, Costa delatou pelo menos 32 deputados e senadores e um governador. Os políticos teriam recebido 3% de comissão sobre o valor de cada contrato firmado pela Petrobras durante a sua gestão.
Os nomes dos políticos delatados por Costa foram divulgados em uma reportagem da revista Veja, ainda em setembro. Entre os nomes divulgados estavam os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). Do Senado, foi apontada a participação do presidente nacional do PP, Ciro Nogueira (PI), e de Romero Jucá (PMDB-RR). Entre os deputados estão Cândido Vaccarezza (PT-SP) e João Pizzolatti (PP-SC).
Em outubro, foi a vez de Youssef aceitar um acordo de delação premiada. O doleiro afirmou que pagou R$ 1 milhão para a campanha de 2010 da ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR), que foi eleita senadora naquele ano.
Em novembro, a Polícia Federal cumpriu 85 mandados judiciais, incluindo 25 de prisão. Entre os detidos estavam o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e dirigentes de grandes empreiteiras.
Políticos, sejam eles deputados federais, senadores ou ministros, não deverão ser investigados pelos membros da Justiça, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal que conduzem as ações da Operação Lava-Jato, baseada em Curitiba (PR). Isso não significa que ocupantes de mandatos e de cargos públicos ficarão livres de responder caso seja identificada a participação no suposto esquema de formação de cartel entre empreiteiras para o superfaturamento de obras e desvio de recursos da Petrobras.
O que está em curso é uma estratégia capitaneada pelo juiz federal Sergio Moro, considerada "inteligente" por advogados envolvidos na defesa de suspeitos, de deixar que políticos, detentores do foro privilegiado, sejam inquiridos e julgados somente por Cortes superiores. Se tivesse incluído políticos no seu escopo, Moro poderia ter colocado a operação em risco.
* Zero Hora