Porto Alegre é a segunda capital em sobrepeso. Um em cada dois porto-alegrenses estão obesos, segundo pesquisa feita pelo Ministério da Saúde. Com o aumento da população acima do peso, cresce também a gordofobia.
A origem do termo ainda é desconhecida. Alguns afirmam que a expressão vem do inglês fatphobia e significa: aquele que teme ou tem uma percepção negativa de pessoas gordas e/ou da obesidade. No Brasil, ele voltou a discussão no ano passado quando, na novela Amor a Vida, a personagem Persefone, vivida pela atriz Fabiana Karla, sofria preconceitos por estar acima do peso.
O preconceito com os gordos é presente no mercado de trabalho. Na pesquisa Profissionais Brasileiros - Um Panorama sobre Contratação, Demissão e Carreira, feita pela Catho em 2013, 6,2% dos empregadores assumiram não contratar obesos. Em maio deste ano, uma professora foi impedida de assumir cargo público em São Paulo por ter essa condição.
O mundo da moda é outro terreno em que os gordinhos são excluídos. Rafael Grendene, 23 anos, tem 1,68m, pesa 90kg e sente o preconceito na pele todos os dias.
- Comprar roupas é o pior. Eu uso tamanho GG e certa vez fui em uma loja querendo comprar um blazer. Indaguei ao vendedor se o estabelecimento tinha o meu tamanho e ele me respondeu: "Essa confecção não é feita para pessoas como tu".
Rafael conta que praias e restaurantes são outros locais em que piadinhas e olhares viram parte da rotina:
- Em restaurante gordinho sofre. Sempre que saio com minha namorada, que é magra, e pedimos um prato cada um, o meu vem com mais comida. Parece que o garçom faz de propósito. Na praia, até pouco tempo atrás, eu nunca tirava a camiseta e não gostava muito de entrar no mar porque as pessoas ficavam olhando e debochando - relata.
Júlia Tussi, psicóloga e sócia fundadora do Espaço Nova Forma, clínica de reeducação alimentar, afirma que o preconceito com o gordo reside na não aceitação da sociedade com o diferente:
- Existe um padrão de beleza na sociedade atual que impõe a "magreza" como ideal. Isso pode ser observado em diversos âmbitos. Há uma preocupação excessiva com a imagem que a pessoa passa, desconsiderando-se, muitas vezes, aquilo que a pessoa é, aquilo que tem a oferecer e aquilo que pode vir a ser.
A psicóloga reforça os relatos de Rafael e afirma que muitos de seus pacientes não gostam de ir às compras por se sentir mal ao pedir os tamanhos necessários. Outros relatam ter vergonha de ir a restaurantes, de comer em público porque se sentem vigiados e julgados.
A modelo plus size Helena Custódio quis que seu exemplo ultrapassasse as passarelas. Em 2011, ela criou a fan page "Sou Gordinha Sim" que hoje conta com mais de 500 mil curtidores.
- Percebi que modelar era muito pouco, queria fazer mais. Decidi criar pôsteres com frases de autoestima, de motivação e de otimismo para postar nas redes sócias e ajudar as pessoas que estão acima do peso. São elas que sofrem preconceito e vivem com baixa autoestima e através das minhas postagens poderiam começar a criar um amor próprio, se aceitar e assumir seu biotipo.
Além das postagens motivacionais do Facebook, Helena criou um blog com tudo que é relacionado ao mundo plus size, desde look para as mais cheinhas a dicas de moda, beleza e saúde. Para a modelo, o sucesso de suas páginas está atribuído ao contato direto e afetivo com seus leitores:
- Um dia recebi o e-mail de uma mãe contando que sua filha já tinha tentado se matar muitas vezes por se sentir feia, por estar acima do peso. Depois que a moça conheceu a fan page e o blog e começou a me acompanhar, foi melhorando . Hoje ela trabalha e tem namorado. Histórias como essa me emocionam e me dão orgulho de ser essa porta-voz contra o preconceito.