Ruby Karp, 13 anos, estava sentada no canto escuro de uma cafeteria em Manhattan, segurando um iPhone cintilante debaixo do queixo. Ela comprimiu o rosto e inclinou a cabeça para baixo.
- Esta é a papada dupla desconfortável' - ela disse, batendo uma foto de si mesma.
Ela mandou a foto para meia dúzia de amigos, bebericou o chocolate quente e quando a caneca voltou à mesa, três novas imagens pipocaram na tela. A primeira, de sua melhor amiga, era um close inclinado da bochecha da garota, com a boca fazendo uma careta torta (a foto "esquisitona", disse Ruby). A segunda era de uma testa jovem franzida formando linhas exageradas (o "homem triste chorando"). A terceira apareceu tão rapidamente que quase não deu tempo de olhar antes de desaparecer no éter do Snapchat.
- Qual é a desses selfies feios? - a mãe de Ruby, Marcelle Karp, quis saber. Pouco tempo atrás, as duas estavam de férias na Califórnia quando a mãe fez uma experiência no telefone da filha. Por acidente, ela enviou a foto para 81 alunos do ensino fundamental no Snapchat.
Ruby riu:
- É engraçado. E dá tanto trabalho para fazer um 'selfie' em que ficamos bonitos.
"Selfie" foi escolhida a palavra do ano de 2013 pelo Oxford Dictionary; Justin Bieber e James Franco são mestres da forma. Kim Kardashian foi notícia com um selfie de maiô que parecia fio dental. Existem selfies enviados do espaço e debaixo d'água, e 91% dos adolescentes costumam compartilhá-los, segundo levantamento recente do Pew Research Center.
Porém, também existem as inevitáveis preocupações que surgem com qualquer moda na internet e adolescentes: relatos de reputações destruídas e imagens seminuas viraram virais, listas de "gostosa ou não" e rankings de atratividade (geralmente dos garotos). O selfie sexy, para garotas, de qualquer forma, se tornou um rito de passagem virtual; o selfie fofo, geralmente envolvendo horas de tentativa e erro para conseguir uma única foto impecável, é uma ferramenta moderna de flerte.
Em meio a torsos nus e sorrisos perfeitos que pipocam com tanta frequência na tela surge a explosão do selfie feio, uma amostra de autenticidade em uma mídia geralmente filtrada. Faça um passeio por Selfie.im, aplicativo para compartilhar selfies dominado por adolescentes para o iPhone e não se verá ninguém fazendo beicinho, mas closes de papadas duplas, interiores de bocas, poros sem maquiagem, rosnados exagerados mostrando os dentes e "lábios de pato" fotografados tão de perto que ficam grotescos. (O Selfie.im usa algo chamado "tom de mosquito" para as notificações pop-up, um barulho em alta frequência que supostamente só pode ser escutado pelo ouvido adolescente.)
No Instagram, moças usam hashtags como #selfiefeio para se comunicar com contorções faciais. E um blog do Tumblr chamado "Pretty Girls Making Ugly Faces" (garotas bonitas fazendo caras feias) apresentam fotos de antes e depois de garotas enviando as contorções faciais mais exageradas.
- Não é preciso mandar uma foto 'bonita' - escrevem os curadores do blog "CONTUDO. Não se esqueça de tornar FEIA sua foto feia."
Não surpreende que as mulheres tenham se deliciado com as exibições emocionais amalucadas de Jennifer Lawrence ("Faces of Jennifer Lawrence" é um site popular no Tumblr) e as muitas variações do agora deplorável "rosto de choro" de Claire Danes. (Como escreveu a "New Yorker", "uma prova da queda de Danes pela autoexposição é sua disposição em parecer feia".)
No Festival de Cinema Sundance em janeiro, 18 garotas adolescentes foram o tema de um curta-metragem, "Selfie", criado durante uma oficina de um dia na qual elas foram incumbidas da missão de capturar, em "selfies", as imperfeições físicas que normalmente excluiriam: espinhas, sardas, queixos duplos e braços. Segundo a diretora, Cynthia Wade, a intenção era começar um debate sobre os padrões culturais da beleza e da autoestima.
- Nós passamos tanto tempo tentando esconder nossas imperfeições porque a cultura estabeleceu que é preciso se envergonhar se você não for perfeita. Acho que as garotas estão cansadas disso. De repente, elas estão muito mais dispostas a adotar o feio ou irônico - disse Wade.
Existe uma longa história de mulheres utilizando o autorretrato como forma de autoexpressão radical (pense em Frida Kahlo, Cindy Sherman). Na verdade, acredita-se que foi uma adolescente - uma grã-duquesa russa - quem bateu o primeiro selfie da história, com uma câmera de caixa em 1913.
Todavia, as imagens da beleza moderna, as que vemos refletidas na mídia, mantiveram uma definição particularmente rígida: refinada, pequena, modesta, amigável e praticamente sem emoções, disse Nancy Etcoff, psicóloga cognitiva de Harvard e consultora do filme "Selfie", que recebeu verba da Fundação Dove.
Porém, as garotas estão começando a ver novos modelos, Lorde, a estrela pop neozelandesa, cujo videoclipe "Tennis Courts" é uma montagem prolongada em câmera lenta do rosto expressivo da cantora de 16 anos; Cara Delevingne, modelo britânica em ascensão, cujas caras engraçadas inspiraram muitas das dez mais; Lena Dunham, que, apesar da polêmica por causa de sua capa na "Vogue", continua a despir-se descaradamente toda semana em "Girls" (e para seus 715 mil seguidores no Instagram). Da mesma forma que a disponibilidade de espelhos durante a Renascença permitiu aos pintores virar os pincéis para si mesmos, o smartphone tem permitido tudo quanto é tipo de experimentação.
- Acho que estamos ricocheteando coletivamente da fadiga da perfeição. Todo mundo agora sabe o que é o Photoshop. Todo mundo já viu o mago nos bastidores da publicidade, de Hollywood. Nós sabemos como a máquina funciona. E assim estamos nos dirigindo na direção das pessoas, imagens e experiências que nos parecem autênticas, sem acabamento e reais - disse Pamela Grossman, diretora de tendências visuais da Getty Images.