Galt MacDermot, compositor de Hair, o mais famoso musical dos anos 1960, morreu na última segunda-feira (17), em sua casa em Staten Island, Nova York, aos 89 anos. Montado pela primeira vez há 50 anos, a produção revelou a dupla de letristas James Rado e Jerome Ragni, ambos atores, que criaram para o musical letras memoráveis como as das canções Aquarius, Hair e Easy to Be Hard.
Ao contrário de Rado e Ragni, que usavam cabelos compridos e fumavam maconha, o canadense MacDermot era o "careta" da turma, sempre de terno e cabelos curtos. Nunca tinha visto um hippie antes do convite de Rado e Ragni para escrever a música de Hair, tarefa que a dupla encomendou primeiro ao pianista de jazz Herbie Hancock - ele tomou liberdade demais com a partitura, cortando algumas canções, e os letristas desistiram.
Por causa dos temas polêmicos (amor livre, protesto contra a guerra do Vietnã, uso de drogas e nudez dos atores no musical), Rado e Ragni demoraram também a encontrar um produtor com coragem suficiente para investir na peça, finalmente montada graças ao veterano Joseph Papp, que produzia o New York Shakespere Festival todos os anos no Central Park.
O musical estreou no Public Theatre, em Nova York, em 1967, depois passou por um clube noturno que não existe mais (Cheetah) e foi consagrado ao ser transferido para o Biltmore Theatre, na Broadway, em 1968, tendo quatro remontagens em Nova York desde então. No elenco original estava Diane Keaton, que depois seria esposa e musa dos filmes da primeira fase da carreira de Woody Allen, e Hiram Keller, ator em Satyricon, de Fellini.
A primeira montagem brasileira do espetáculo, dirigida por Ademar Guerra, estreou em 1969, no Teatro Aquarius, em São Paulo, logo após o estouro da peça no Biltmore. Além da resistência dos mais conservadores ao tema, Hair precisou driblar no Brasil também a censura da ditadura militar – foi liberada apenas uma cena de nudez, com os atores imóveis no palco. A montagem ficou em cartaz até 1972, e teve nos papéis atores de uma jovem geração que mais tarde se tornariam astros da TV e do cinema nacionais, como Ney Latorraca, Antônio Pitanga, José Wilker, Ivone Hoffman, Fernando Reski e Rosa Maria. A grande revelação do elenco foi uma jovem atriz então com apenas 18 anos, Sônia Braga.
A versão mais conhecida do grande público, contudo, é a adaptada para o cinema pelo diretor tcheco Milos Forman, com Treat Williams (mais tarde , John Savage e Beverly D'Angelo nos papéis principais.
Várias canções da produção provocaram escândalo, especialmente Hashish, por fazer apologia à droga, e Sodomy, em que Rado e Ragni enumeram dezenas de posições sexuais e fazem a defesa das relações homossexuais. Nada que tivesse remotamente a ver com a vida pacata de McDermot, que era um pai rigoroso e disciplinado. Ganhador de um Tony por Two Gentlemen of Verona, MacDermot foi tamhém autor de trilhas para o cinema, como a de Cotton Comes do Harlem (Rififi no Harlem, 1970).