Sentada na cadeira do salão de beleza, Gisele Flores deixa a maquiadora aplicar em seu rosto as sombras coloridas que Katy Perry costuma usar na turnê Witness, que chega a Porto Alegre na próxima quarta-feira (14). A vontade da relações públicas de assistir ao show de forma idêntica à cantora é tanta que testar roupa e maquiagem na manhã desta sexta (9) não basta. Para completar a fantasia, Gisele vai à Arena do Grêmio acompanhada de Left Shark, o mascote da diva da música pop.
O desafio de assumir o traje do tubarão será do marido de Gisele, Jaime Nazário, executivo do ramo de motocicletas que divide com a esposa o fanatismo pela cantora americana. Enquanto Gisele cronometra o tempo que a maquiadora leva para finalizar a pintura em seu rosto, Jaime repassa detalhes da vida e da carreira de Katy, provando que pesquisa mais do que a parceira sobre a celebridade de 33 anos.
— Ela quase não fez sucesso. Era backing vocal, veio do mundo gospel. Para se lançar no pop, dentro da família, não foi fácil.
Em seguida, começa a falar do momento em que a cantora terminou um namoro, situação que teria se agravado com o casamento da irmã, que é sua agente.
— Foi muito traumatizante pra ela — lamenta Jaime, como se fosse amigo íntimo da cantora.
Sem filhos e com 50 anos cada um, Gisele e Jaime são fãs de Katy Perry desde o lançamento de Teenage Dream, segundo disco desde que ela abandonou a música gospel e o sobrenome Hudson, assumindo o nome artístico que a faria famosa. Em 2016, viram o carinho aumentar durante um dilema familiar. Enquanto a mãe de Gisele tratava de um câncer no pulmão, a mãe de Jaime sofria de um câncer nos seios. As canções de superação de Katy Perry, como Firework, ajudaram a encarar o problema.
— As letras falam de força, de alegria, de vencer com humor — explica Gisele.
Com roupas, maquiagem e ingressos na pista premium, devem gastar cerca de R$ 3 mil. Só nas botas brancas de cano longo que Gisele comprou pela internet, foram R$ 500. Jaime exigiu a mesma qualidade no traje de Left Shark: comprou uma fantasia por R$ 700. A prova de que valeu à pena investir no tubarão está na ponta da língua. Conta como o mascote ganhou destaque no show de Katy Perry durante o intervalo do Super Bowl em 2015, quando ela apresentou-se com dois dançarinos vestidos de tubarão. O da esquerda, porém, se perdeu na coreografia e ganhou a simpatia dos fãs, que o apelidaram de Left Shark (o tubarão da esquerda). Desde então, o mascote marca presença nas apresentações.
A decisão de irem trajados surgiu depois de muito tempo segurando o desejo nos encontros de cosplay, que costumam frequentar sem a coragem de usar fantasias. Quando a cantora anunciou que viria a Porto Alegre, não só compraram os melhores ingressos como apostaram numa indumentária que tem tudo para chamar a atenção na Arena do Grêmio. Por trás da criatividade, há a vontade de serem notados pela produção e convidados a subirem ao palco, ficando lado a lado da cantora.
Se não forem escolhidos, não perderão o ânimo.
— Nossa diversão é sermos nós mesmos. Curtir uma música. De tristeza o mundo está cheio — garante Gisele.
Depois de colorir a cliente com materiais à prova d'água, Renata Böck não tem dúvidas sobre a empreitada do casal na noite do show.
— Com certeza eles vão chamar a atenção — aposta a maquiadora, que gastará outra hora e meia na manhã definitiva de quarta-feira, quando deixará Gisele à altura de sua musa.