Depois de dois anos, a foto de um tênis voltou a circular com força nas redes sociais. O registro provoca discussões, alguns enxergam o calçado cinza com verde, outros garantem que é rosa com branco. Mas, afinal, qual a explicação para essa falta de consenso?
O primeiro ponto é: não tem nada a ver com dominância de um dos hemisférios do cérebro, uma justificativa que também viralizou nas redes sociais. A neurologista Sheila Martins, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital Moinhos de Vento, explica que ter um dos hemisférios do cérebro (esquerdo ou direito) mais desenvolvido pode impactar na personalidade e no comportamento das pessoas. O lado direito dominante está relacionado à intuição e à criatividade, o lado esquerdo, com a intelectualidade. Mas isso não define como enxergamos as cores.
— A dominância do cérebro realmente existe, isso está correto. Mas não que tenha a ver com a percepção das cores, isso nunca foi demonstrado e não há base científica para isso — reforça a especialista.
A neurologista acrescenta que a percepção das cores pode ser diferente para cada um e que, ao olhar um objeto, a cor é refletida na retina e isso é interpretado no córtex cerebral.
O oftalmologista Fernando Leite Kronbauer, do Centro de Olhos do Rio Grande do Sul, defende que a distinção está relacionada com a percepção de cores, que é muito individual.
— Existem algumas cores que são fundamentais e a gente consegue lembrar bem, que são vermelho, amarelo, azul, verde, laranja e marrom. Mas os indivíduos têm habilidades diferentes de distinção de cores e de lembrar delas — afirma.
A percepção de cores também é influenciada pela quantidade de luz, a posição do objeto e os efeitos de fundo. Isso pode explicar o fato de a cor mudar para alguns ao olhar a foto do tênis no computador ou no celular. Em uma condição ideal de luz, praticamente todos enxergariam a mesma cor, diz o médico.
O mistério envolvendo cores e vestuários não é de hoje. Em 2015, um vestido ganhou as redes sociais com a mesma dúvida: seria dourado ou azul? A neurocientista Claudia Feitosa Santana, do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (IIEP) Albert Einstein, ficou intrigada pela polêmica e pesquisou o tema. A conclusão da pesquisa foi que a diversidade de percepção estava parcialmente relacionada ao cone S, receptor da retina responsável pelo processamento de ondas curtas de luz.