Apesar de ter anunciado nas redes sociais que fez uma doação de R$ 1 milhão para ajudar as vítimas da enchente no Rio Grande do Sul, o influenciador digital Nego Di não realizou nenhuma transferência nesse montante para a campanha solidária. É o que descobriu o Ministério Público do RS no caso que investiga a promoção de rifas virtuais pelas redes sociais.
Nesta quinta-feira (5), o programa Timeline, da Rádio Gaúcha, ouviu do promotor Flávio Duarte, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), detalhes que levaram à descoberta de doação falsa.
O caso remete à maio de 2024, quando o Estado registrou o maior desastre climático de sua história. Na ocasião, milhares de gaúchos precisavam de ajuda e uma rede de solidariedade se formou para tentar ajudar no processo de socorro às vítimas.
O promotor Flávio Duarte detalhou o que foi encontrado pelos investigadores sobre a falsa doação:
—Aquilo foi no dia 7 de maio de 2024. Ele publicou um vídeo e o comprovante por volta de oito da noite. Nesse dia, não houve nenhuma doação de R$ 1 milhão para a campanha (Vakinha). A única doação que houve nesse dia foi dele mesmo, no valor de R$ 100, por intermédio de uma empresa que ele era sócio. A investigação demonstrou que ele pegou aquele comprovante de R$ 100 e construiu um (comprovante falso) de R$ 1 milhão em cima, com o mesmo número de autenticação, a mesma hora. Todos os dados.
Timeline: Ele adultera o comprovante?
(Ele adultera) para um milhão. Ele recorta, tirando o número de autenticação, porque esse número identificaria a transferência, e publica esse recorte (de comprovante) de 1 milhão.
Timeline: Como o senhor chega nessa informação?
Foi no próprio celular dele, havia o comprovante de transferência de R$ 100, o comprovante de R$ 1 milhão, feito em cima desse comprovante de R$ 100. Esse comprovante é um recorte de um comprovante maior, em que aparece o numero de autenticação, o horário, os dados, e esse comprovante é em cima de uma doação de R$ 100.
Timeline: Vocês descobriram como?
Na quebra de sigilo bancário, nós já tínhamos a informação de que naquele dia não havia acontecido a transferência de R$ 1 milhão. Porque um comprovante demonstraria um fato que aconteceu. E isso não tinha. Com a apreensão do telefone, com a extração dos dados do telefone, tivemos acesso aos comprovantes. Ao comprovante de R$ 100, ao comprovante (adulterado) de R$ 1 milhão e ao recorte que se transformou nessa postagem.
Denúncia
O influenciador digital Nego Di e a companheira Gabriela Souza foram denunciados pelo Ministério Público no caso que investiga a promoção de rifas virtuais pelas redes sociais.
Nego Di foi acusado de estelionato, lavagem de dinheiro e uso de documento falso, além da contravenção penal de promoção de loteria na modalidade de rifas digitais. Gabriela Souza é apontada pelo crime de lavagem de dinheiro. O casal foi alvo de operação pelo mesmo fato em julho deste ano.
Contraponto
"A defesa de Nego Di, Dilson Alves da Silva Neto e sua companheira, afirma que provará a inocência dos representados munida de provas que comprovam a licitude de seus bens, a realização de parte da doação por troca de cachê de publicidade e movimentação financeira lícita. Seus bens apreendidos foram adquiridos de forma lícita, comprovando que sua renda é compatível com seu patrimônio. Ainda, em que pese o requerimento por parte do Ministério Público de alienação antecipada dos bens, tal decisão foi suspensa a pedido da Defesa.
Tatiana Borsa e Camila Kersch"