A comoção pela morte de Diego Armando Maradona transcende a admiração, a emoção e a paixão provocada pelo futebol. Um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos, marcou sua vida dentro de fora dos campos. Gênio, carismático, imprevisível, com suas contradições, deixou marcas por onde passou. Sua personalidade conquistou a admiração, o apoio e o carinho dos fãs nos bons e maus momentos.
No mundo inteiro, os que viram a sua magia com a bola ignorando o adversário, jamais esquecerão os passos, os gestos e as reações inesperadas na busca do esperado gol.
Lembrei a festa que assisti em Nápoles, em abril de 1990, quando estive na cidade que acompanhava a final do campeonato italiano e se preparava para a Copa do Mundo.
Maradona foi decisivo para a conquista do campeonato italiano. Orgulhoso, levantou taça. O carnaval parou a cidade e comecei a entender a idolatria dos napolitanos ao mítico argentino, o que continuaria nos dias que permaneci na cidade.
Religião da torcida
O napolitano enlouqueceu com os gols do “diablo” Maradona e o transformou numa das personalidades mais populares da cidade. Como na Argentina, o ídolo virou religião de uma torcida que o venerou como a San Gennaro, o santo do sangue milagroso que se liquidifica duas vezes por ano.
O jogador argentino, presença constante nas emissoras de rádio e televisão e jornais locais, era motivo de conversa em todo lugar. Quando descobriam que eu era brasileiro, era inevitável a comparação com Pelé e a discussão por quem seria o melhor do mundo.
Maradona exercia uma obsessão sobre os napolitanos. Suas fotos estavam nos bares, restaurantes, lojas, anúncios em outdoors, postes e até vidros dos carros. O argentino virou emblema nos bottons e o centro da bandeira de seu clube que naqueles dias de abril tomaram a cidade nas finais do campeonato italiano.
A paixão do napolitano pelo futebol parecia com a do brasileiro. O torcedor idolatrava Maradona, conhecia sua vida, sua origem, colecionava suas fotos e até brigavam por ele.
Marodona e San Gennaro
Caminhando pela parte velha da cidade do Sul da Itália fiquei surpreso a cada quadra que passava. Bandeiras com suas fotos estavam nas sacadas dos edifícios, nos varais junto com a roupa estendida para secar.
Na maioria das casas mais antigas, dava para ver da rua, através da janela, a religiosidade dos napolitanos que, ao lado do oratório onde veneravam San Gennaro, colocavam a foto de Maradona. A estranha obsessão do ídolo sobre os napolitano parecia como o mistério do próprio milagre do sangue de San Gennaro que tanto a igreja quanto a ciência não explicam.
Na semi-final da Copa do Mundo de 1990, entre Argentina e Itália, como antecipei, em matéria na Zero Hora, boa parte dos napolitanos invadiram o Estádio San Paolo torcendo pela genialidade e pedindo pelos gols do "diablo" Maradona.
Nesta quarta-feira (25), os napolitanos relembraram os momentos de alegria, os gols inesperados, os títulos conquistados. Também choraram a morte do seu ídolo que será eternizado no Estádio San Paolo, novo Estádio Diego Armando Maradona.