Ao menos numa experiência o Teu Veículo é pioneiro no Brasil: somos os primeiros a furar o pneu traseiro de uma Honda Africa Twin 1000 2017. Bom, o país é gigantesco, e de janeiro até o final de março foram vendidas 101 unidades. Seríamos os primeiros do Rio Grande do Sul? Difícil dizer, pois o Estado teve oito unidades vendidas no período. Bom, com certeza, somos os pioneiros a furar o pneu do modelo e ser atendido pelo seu Zé, na BR-290, em Caçapava do Sul. E quem é seu Zé? Primeiro, temos de falar do Luiz Santos.
Em uma curva no km 223, a Africa saiu de lado. Como estava abaixo de 110km/h, foi fácil controlar a direção e parar no acostamento. Bastou uma checada rápida para ver que o pneu traseiro estava arriado. Pelo celular, foi possível ver que, a menos de dois quilômetros dali, havia um posto de serviço. Colocando todo o peso possível para frente, fomos levando a moto bem devagar, ainda pelo acostamento – havia ainda um pouco de ar nos pneus. Menos de 100 metros depois, um Uno branco para pouco à frente. Desce dele um barbudo, caminha poucos passos.
– Tá precisando de ajuda? – indaga.
Era Luiz Santos, presidente do motoclube The True Brothers, que parou apenas para ajudar "um irmão motociclista". Respondi que não precisava, pois o posto era bem perto dali. Agradeci. Ele então rumou ao carro e, antes que a moto arrancasse, veio o inesperado: ao sair para tentar me ajudar, Luiz trancou o carro com a chave no contato e o motor funcionando. Em tempo: isso ocorreu porque, dias antes, a porta do Uno havia sido arrombada em um furto, desde então, era impossível fechá-la sem travá-la. Luis não havia tido tempo de consertar o estrago.
Aproveitei para deixar os baús da moto com meu socorredor (um peso a menos para ir até o posto), que agora passava a socorrido. Chegando no local, um mecânico prontamente me atendeu e foi resgatar Luiz. Ao saber que era um Uno, ele tinha certeza que, com a velha técnica do arame por trás da porta, conseguiria abrir sem problemas. Fui, então, falar com o borracheiro, e a recepção foi nada calorosa:
– Tenho uns quatro pneus de caminhão para arrumar, depois te atendo. Se tu quiser, pode ir embora.
Havia dois caminhões na fila, cada um com dois pneus para arrumar. Um dos caminhoneiros disse que não tinha pressa e até falou que eu poderia passar à frente.
– Pneu de moto eu não passo na frente de ninguém. Se quiser, espera – disparou o borracheiro.
Fui até um autoelétrico ao lado e perguntei se havia outro profissional. Ele disse que o Zé (foi quando soube seu nome) era o único em um raio de 18km, e odiava lidar com motos. A essa altura, Luiz Santos havia chegado com os topcases da Africa e foi logo descarregando-os. Pediu ao borracheiro para colocá-los próximos dali, em uma área coberta.
– Pode colocar onde tu quiser, mas se alguma coisa acontecer com eles, não tô nem aí.
Como não havia caminhões para transportar a moto para outro lugar, o jeito foi esperar. Luiz Santos ficou no local por pelo menos uma hora, falando de viagens, de sua Yamaha RX 180, uma raridade dos anos 1980. Assuntos normais para qualquer motociclista. Me deixou o número do telefone e voltou para o trabalho. Pouco mais de três horas se passaram até que o borracheiro Zé começou a mexer na roda de aro 18" da moto.
Do pneu, ele tirou um pedaço de osso, que havia cravado fundo e atingido a câmera. Ele fez um remendo a frio e disse que nunca havia montado pneu de uma Africa Twin. Em seu único elogio ao veículo, enalteceu o fato de a moto ter cavalete, o que facilita bastante o serviço. O ajudamos a recolocar a roda, pagamos R$ 20 e ele liberou o veículo. Cerca de 150km depois, a moto deu sinais de instabilidade e, em um posto, foi possível ver que o mesmo pneu havia perdido 10 libras de pressão.
Colocamos ar em um posto de serviço e fomos fazendo a mesma coisa a cada parada para reabastecer, pois não estava fácil encontrar outro borracheiro. Cerca de 500km depois, já em Mercedes, na Argentina, encontramos o "gomero" Roberto Gomez, que constatou que o conserto não havia sido bem feito e fez novo reparo. Curioso com a moto, por conta própria ele lubrificou a corrente dentada e engraxou os rolamentos da roda. Cobrou, em dinheiro argentino, o mesmo valor. Mil quilômetros depois, o pneu segue cheio.
Dica: na estrada, de moto, sempre trafegue no mesmo local onde passam as rodas dos automóveis. Eles vão "limpando" o chão e fica mais difícil encontrar materiais que furam os pneus. Não é uma medida infalível, mas é a melhor maneira de tentar ficar longe dos borracheiros.
Veja nos próximos dias mais detalhes sobre o desempenho da moto e informações sobre a corrida de domingo.