Em 2017, o Rio Grande do Sul ganhará um novo tipo de seguro de veículos: o Auto Popular, que pode ficar até 40% mais barato que o seguro padrão. Para isso, as seguradoras usarão, nos carros acidentados, peças não originais (as chamadas paralelas) ou usadas (recuperadas de desmontadoras, os antigos desmanches). A modalidade começa a ser praticada este ano na Grande São Paulo.
– Trata-se de algo absolutamente novo, então tudo que falarmos é uma expectativa. Em princípio, os primeiros seis meses serão apenas em São Paulo, para que a operação se consolide. Depois, a ideia é que o Auto Popular se espalhe para outros Estados. Quanto ao Sul, sabemos que o gaúcho é muito exigente e que temos de preparar um produto adequado – declarou Felipe Milagres, diretor da Azul Seguros, vinculada a Porto Seguro, a primeira a se credenciar para este tipo de apólice junto à Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Conforme a Susep, o Brasil possui uma frota de cerca de 60 milhões de veículos, mas menos de 18 milhões têm algum tipo de seguro contra acidentes e roubo. O auto popular tentará atrair, dentro desses 42 milhões restantes, donos de automóveis com mais de cinco anos de uso de acordo com estudos da Susep, esses proprietários acabam desistindo das apólices. Para vender o produto, é preciso seguir várias regras. Uma delas é deixar bem claro ao consumidor que as peças poderão ser provenientes de outros carros. E, antes de vender o plano popular, é preciso oferecer o pacote tradicional.
– A Susep coloca que toda a comunicação do produto tem de ser muito clara, e a escolha tem de ser do cliente. Estamos preparando material para site, folhetos e outros materiais explicativos. Corretores, mecânicos e outros profissionais estão sendo treinados, pois a mudança de serviço é grande. Por isso concentramos, neste começo, tudo em São Paulo, onde fica a matriz da empresa _ lembra Felipe.
Para o representante da Azul, mesmo que a nova lei possibilite maior reaproveitamento de recondicionadas, não estimulará o roubo de veículos:
– Pelo contrário, trata-se de um avanço no caminho para a redução do comércio de produtos furtados e roubados. Tem todo um processo controlado pelo Detran de identificação de peças, inclusive por sistema de microparticulas, para identificar a origem. O governo criou lei para regularizar os desmontes, e as peças virão apenas de desmontadoras oficiais.
Há três anos, a Porto Seguro criou sua própria desmontadora, a Renova Autopeças. As demais seguradoras, por força de lei, são obrigadas a comprar itens apenas das desmontadoras credenciadas pelos Detrans de todo o país.
"PREÇOS SERÃO MAIS ACESSÍVEIS", DIZ DIRIGENTE DO SINDSEG-RS
Presidente do Sindicato das Seguradoras do Rio Grande do Sul (Sindseg-RS), Guacir Bueno está otimista com o Auto Seguro.
– A gente há tempos tenta regulamentar esse tipo de apólice para a base do mercado ficar maior. É uma maneira de oferecer serviço mais apropriado a todos os bolsos. Existe uma frota muito descoberta, gente que não faz seguro pela falta de condição financeira. Os preços serão mais acessíveis – analisa.
O dirigente lembra que não há bases para comparação, mas sua expectativa é que, em dois anos, ocorra um aumento de 30% na venda de apólices:
– Quanto mais gente usar, mais o preço deve baixar, é uma lei de mercado.
Assim como Felipe Milagres, ele não acredita em aumento da quantidade de furto e roubo de veículos caso ocorra aumento da procura por peças usadas:
– Desde a implantação da lei para desmontadoras, foram apreendidas no Estado mais de duas mil toneladas de sucatas. Pela lei, as peças que vão para as seguradoras são todas numeradas, uma fraude é bem mais difícil do que nas vendas diretas para o consumidor. Mas, claro, é preciso fiscalização.
CARROS COM MAIS DE 10 ANOS PODERÃO FAZER APÓLICE,
ACREDITA DIRIGENTE DO SINCOR-RS
O que já deu certo com os medicamentos, agora será aplicado no mercado de auto-peças. E em lugar de fazer os reparos nas oficinas das concessionárias, serão disponibilizadas oficinas particulares qualificadas e certificadas, geralmente empresas familiares, com custo de mão de obra muito menor que o praticado nas redes de concessionárias. Afinal, não faz mesmo sentido reparar na concessionária um veículo que já não está mais sob a garantia do fabricante. O raciocínio é do diretor de Marketing e Comunicação do Sindicato dos Corretores (Sincor-RS), André Thozeski.
Ele acredita que até veículos com mais de 10 anos, hoje praticamente impossibilitados de seguro total (as seguradoras não aceitam o contrato por temerem não achar peças de reposição no caso de colisões), podem voltar a fazer seguro.
– A apólice custará menos que a tradicional porque permitirá que os reparos sejam feitos com peças genéricas e também por peças recondicionadas, ou seja, peças usadas de procedência certificada – lembra.
Sobre a possibilidade de aumento no mercado, Thozeski lembra que "tudo é muito novo, não temos bases estatísticas e históricos para se basear".
– Mas há um sentimento que, com o barateamentos dos custos dos seguros mais e mais pessoas vão comprar, e a simplificação e barateamento dos reparos com peças genéricas e recondicionadas vai permitir que os custos das apólice sigam mais baixos, realimentando um círculo em que todos ganham – completa.
Sobre a modalidade aumentar o roubo de veículos, ele está convicto de que isso não vai ocorrer, pois as peças utilizadas precisam ser certificadas, oriundas de desmontes oficiais, "onde não entram veículos roubados, somente acidentados".
SAIBA MAIS
Como é a nova regra: É permitido fazer o conserto com peças usadas, mas apenas as oriundas de desmontadoras regularizadas de acordo com a Lei 12.977, de 2014. A outra possibilidade é usar peças novas não originais, que muitas vezes custam menos da metade do preço da de fábrica. A ação vale para lataria, retrovisores, maçanetas e outras peças. Freios, suspensões, airbags e outros itens de segurança não entram na lista e têm de ser novos.
Público-alvo: A Azul só vai vender o pacote para automóveis com mais de cinco anos - algumas montadoras, como Hyundai e Jac, oferecem garantia de cinco anos aos seus veículos, mas não permitem que eventuais peças sejam trocadas por recondicionadas. Motos não fazem parte do Auto Popular - segundo a Azul, está sendo feito estudo para ver que tipo de peças de veículos de duas rodas podem ser aproveitadas, mas não há data para que isso ocorra. A Susep vai divulgar uma lista com 40 carros que podem receber peças usadas e recondicionadas. O critério de escolha é o mercado – são os veículos mais vendidos.
Mudanças: Além da possibilidade de não usar peças originais, a outra grande mudança é que no Auto Popular a seguradora é quem escolhe a mecânica responsável pelo conserto - ela terá uma lista de empresas credenciadas, e o cliente terá de escolher uma delas, não podendo levar o carro a um mecânico de confiança.
Seguradoras: As principais companhias do país já estão com pacotes prontos para vender seus produtos. Em geral, as apólices são até 40% mais em conta. Porém, é preciso comparar preços.
Onde vigora: Por uma questão de logística (preparar vendedores e mecânicos), as principais companhias devem começar os planos em SP. Em 2017, o sistema vai se espalhar para outros estados.
Peças que não comprometem a segurança, como bancos, maçanetas e retrovisores, poderão ser substituídas por usadas