Um dos maiores cases de sucesso da história da Volkswagen no Brasil, o Gol chegou ao mercado este mês com uma versão saudosista: apenas duas portas. Pelo visual, não há como não lembrar do veículo lançado em 1980, na época com apenas 47 cavalos e refrigerado a ar, que rapidamente tornou-se o mais vendido do país, posição que ocupou por 27 anos. Hoje, para combater a crise sem precedentes que assola a indústria automotiva, a montadora aposta em uma solução barata, mas que traz novidades no menu. Sobre o fato de o carro ter duas portas... falemos primeiro do motor.
O propulsor de três cilindros é a principal novidade do Gol. Aos que torcem o nariz para a baixa potência, nada melhor do que dar uma volta com o veículo para acabar com o preconceito. O motor é absolutamente compatível com a vida urbana e atinge 60km/h em poucos segundos. Para ultrapassagens, também não faz feio. O segredo é o fato de 85% do torque já ser obtido com 2800rpm, o que deixa o carro bem esperto.Em relação ao tricilíndrico da Peugeot, um dos concorrentes, o motor do Gol é um pouco mais barulhento – problema reforçado pela qualidade inferior do abafamento de som na cabine. Nas retomadas de 60km/h para 100km/h, e em termos de velocidade final, os desempenhos são bem próximos. Mas, apertando os dois motores, o do Gol consome mais gasolina – fez entre 12,3km/h e 17,1km/h, dependendo do trecho e da forma de condução. Sobre as duas portas... falemos agora do conforto.
Esqueça itens como chave canivete, volante inteligente e outros mimos dos carros modernos. O Gol duas portas 2017 é o que, nos anos 80, classificava-se como pé-de-boi (carro de entrada). Mas há importantes itens de série (ABS é obrigatório), como regulagem de altura no banco e limpador do vidro traseiro. A versão básica vem sem som, mas é possível colocar itens como ar-condicionado e tela multimídia, com conexão para celulares – o próprio suporte para celular, no painel, é acessório. Para o trio, separe pelo menos R$5 mil. O espaço no porta-malas, outrora considerado pequeno, hoje é grande, se comparado aos veículos compactos.
Sobre as duas portas... bem, as razões para o condutor optar por esta versão são poucas. Talvez desenvolver algum tipo de ambulância para animais, dificultar a entrada de algum parente no banco de trás ou (a mais provável) economizar na hora de comprar uma frota. A verdade é que, pela diferença de R$ 2,2 mil, compra-se o Gol com quatro portas, muito mais adequado ao dia a dia e com os mesmos equipamentos.
FICHA TÉCNICA
Motor: flex, três cilindros, com 75cv (82cv a etanol) e torque de 9,7 kgfm (10,4 a etanol) a 3000 rpm
Câmbio: manual de cinco marchas
Suspensões: Dianteira independente do tipo MCPherson, com molas helicoidais e barra estabilizadora; na traseira, modelo é interdependente, com braços longitudinais e molas helicoidais
Rodas: 14”
Freios: circuito hidráulico em diagonal, servofreio a vácuo, ABS e EBD. Na frente, discos ventilados de 239mm (nas outras versões, 256mm). Na traseira, tambores.
Dimensões: comprimento, 3897; largura (com espelho retrovisor), 1893mm; altura (teto), 1464mm, entre-eixos, 2466mm.
Porta-malas: 285 litros
Tanque de combustível: 55 litros
Peso: 901kg
Aceleração: 0-100 km/h, 12,6 (12,3 com etanol).
Velocidade máxima: 168 e 170km/h (divulgada pela VW)
Preço: com frete, no Estado, é vendido nas concessionárias por cerca de R$ 35,5 mil
VW LUTA PARA CARRO RETOMAR VENDAS
A Volkswagen do Rio Grande do Sul, provavelmente pela origem alemã de parte do Estado, é vista pela própria montadora como uma das mais fortes do Brasil. Amarok e Saveiro, entre outros modelos, costumam ter mais vendas entre os gaúchos do que nos demais Estados. Com o Gol, porém, o fenômeno não está e repetindo.
No ranking nacional de junho, o veículo foi o quarto mais vendido no mês – atrás de GM Onix, Hyundai HB20 e o surpreendente Renault Sandero. Na lista estadual, ele aparece em sexto, atrás ainda de GM Prisma e Fiat Strada.
Apesar da melhora do carro, o Gol não teve como escapar da crise sem precedentes do setor automotivo. Em junho do ano passado, o veículo teve 7.291 unidades vendidas. No mesmo período deste ano, foram apenas 5.943. Em Porto Alegre, o Gol foi o sexto carro mais vendido do mês, com 303 unidades – líder, o Onix emplacou 630.
Frota, o destino
A Volkswagen acredita que o modelo de duas portas represente menos de 20% do total de unidades comercializadas. O principal cliente são empresas que precisam de frota – os cerca de R$ 2 mil de diferença para um carro quatro portas fazem bastante diferença para quem compra acima de dez unidades.
O novo duas portas traz bons itens de série, como direção hidráulica, vidros elétricos, travamento central e limpador e desembaçador do vidro traseiro. Em termos de suspensões e freios, o Gol manteve a simplicidade e confiabilidade que o fizeram famoso nos anos 80. O veículo não está entre os mais macios do mercado, mas não se acanha frente aos buracos constantes das pistas brasileiras.
Com 285 litros no porta-malas, o Gol 2017 é mais espaçoso que muitos carros – o Jeep Renegade concorre com as SUVs, custa mais do que o triplo e comporta 260 litros. No design, a Volkswagen aposta em linhas mais esportivas, sobretudo na traseira, que ficou mais alta e com lanternas maiores. Os vincos nas laterais e no capô também ajudam no visual despojado
HISTÓRIA FENOMENAL
Quem tinha um carro com quatro portas, até o início dos anos 90, era visto como excêntrico ou burro. Mesmo “banheiras” como Opala e Santana tinhas duas portas. Por mais incômodo que fosse na hora chegar ao banco de trás veículo, consumidores acreditavam que era o mais adequado. A maior alegação era de que portas adicionais acarretariam mais barulho. Alguns temiam que crianças pudessem mexer nas maçanetas e, assim, causar uma tragédia. O fato é que, de acordo com dados oficiais, até 1991, 92% dos carros nacionais eram de duas portas. Com o Gol, não foi diferente.
Além de duas portas, o modelo surgido em 1980 tinha motor refrigerado a ar de 1.300 cm³ e 47cv (derivado do Fusca) e câmbio de quatro marchas. No ano seguinte, ganhou propulsor 1.6 de 67cv, Em 1982, o Gol duas portas ganhou sua primeira versão especial, para marcar a Copa do Mundo na Espanha. A primeira versão com motor de refrigeração líquida e câmbio de cinco marchas foi lançada em 1984. Em 1989, o Gol GTI foi o primeiro carro produzido no Brasil a contar com o sistema de injeção eletrônica. Nessa época, o automóvel era o mais vendido do Brasil. Até que, em 1992, o então presidente Fernando Collor de Mello permitiu a importação de modelos estrangeiros. Em menos de oito anos, os brasileiros começaram a perceber os benefícios dos carros com quatro portas. O próprio Gol passou a ter mais carros vendidos nessa versão do que na de duas portas.