O carro mais econômico do Brasil. O título foi dado pela própria Peugeot, mas é difícil acreditar que, em condições normais, algum veículo supere o desempenho do 208 Allure 1.2, lançado em abril. Mas o francês tem muitos outros trunfos para tentar elevar a montadora a outro patamar de vendas no Brasil. O maior problema, claro, é o preço – em relação aos concorrentes, bem menos equipados.
Dois grandes acertos a Peugeot tem, e o primeiro sequer é preciso entrar no carro para conferir: o visual é, disparado, o melhor da categoria entre os hatchs pequenos e também se comparado aos médios. Atualizado, o Allure traz modernos cunhos no capô, lanternas alongadas e um belo teto panorâmico, mais resistente do que a lataria do carro.
Basta entrar no carro para ver que o acabamento também recebeu atenção especial. As saídas de ar horizontais acompanham o desenho do carro, o volante recebeu forração em couro e a tela de sete polegadas deixou o carro sofisticado e com capacidade de espelhar celulares para usar programas do aparelho, como o navegador. Mas, pelo preço de R$ 56 mil, o veículo poderia vir com câmera de ré – o acessório custa R$ 2,4 mil – e fechamento automático dos vidros.
Quem tem carro francês sabe que, em geral, os veículos não são intuitivos no que diz respeito a acessar equipamentos. Para os brasileiros, pode parecer defeito, mas os franceses adoram ter peculiaridades. Uma delas é acesso ao piloto automático, em uma alavanca quase escondida ao lado esquerdo do volante. À primeira vista, tudo parece muito complicado, mas nada que não se acostume em poucos quilômetros.
Desempenho excelente
O segundo (e talvez maior) trunfo do carro é seu motor de três cilindros. No teste de mais de mil quilômetros até Rancho Queimado, na serra catarinense, o propulsor mostrou-se excelente, bem melhor que o aposentado 1.5 da marca. O consumo foi de 19,7km/l - acima de 14,5km/l na cidade. Melhor: em retomadas, o 208 surpreende, consegue ultrapassagens seguras.
O tricilíndrico surpreende também no que diz respeito ao barulho – acima de 100km/h, ele é mais silencioso que o VW Up e o Fiat Moby, concorrentes diretos. Da cabine, nada se escuta. Em parte, isso se deve à ótima camada de vedação interna.O câmbio manual de cinco marchas tem ótimo escalonamento, mas os engates são justos demais. A suspensão está longe das mais macias, porém não perde para os rivais da categoria. O espaço é satisfatório para quatro pessoas – inclusive no porta-malas. O preço é acima dos concorrentes, algo complicado em época de crise.
Sucesso no RS é maior que na média nacional
Ainda sofrendo com problemas ocorridos logo após sua chegada ao Brasil, a Peugeot tenta recuperar espaço no cenário automotivo nacional. A montadora ganhou fama de ter os carros que mais desvalorizam após três anos de uso, porém, pequisas recentes mostram que está na média do mercado – cerca de 31% de desvalorização para cada veículo, independentemente da marca.
No mês passado, de acordo com dados da Fenabrave, apesar da crise a Peugeot apresentou crescimento nas vendas – tarefa mais fácil para quem detém apenas cerca de 4% do mercado nacional. No Rio Grande do Sul, os veículos da marca parecem ser melhor aceitos que na média do país, sobretudo o 208 Allure 1.2. No país, ele é o 38º carro mais vendido do ano. Rio Grande do Sul, ocupa a 18ª posição e, em Porto Alegre, é o 17º. Os dados são da Fenabrave, referentes ao acumulado do ano.
– Toda a região Sul é campeã de vendas. E o gaúcho gosta muito de Peugeot, quem compra um, dificilmente troca de marca. Hoje, 70% das vendas são para quem tem já tem um Peugeot – afirma a diretora comercial do grupo Servopa, Cris Leal, responsável pelas concessionarias Peugeot de Porto Alegre e da Região Metropolitana.
Em maio, a montadora inaugurou novos pontos de venda em São Paulo, onde as vendas da marca ainda patinam. É um passo para a Peugeot, até 2018, ficar entre as 10 marcas mais vendidas do país.
– Esse novo motor está sendo muito bem aceito, e no Estado conseguimos crescer 15%, apesar da crise – continuou Cris Leal.
Ficha técnica
Motor: dianteiro, transversal, três cilindros, flex, com 85/90cv a 5.750rpm e torque de 12,3/13,0kgfm a 2.750rpm
Transmissão: câmbio manual de cinco marchas, com tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: independente Mac Pherson na dianteira e eixo de torção na traseira
Freios: disco na dianteira e tambor na traseira, com ABS
Peso: 1.046 kg
Porta-malas: 285 litros
Rodas: 15 polegadas
Dimensões: comprimento de 3,966mm, largura de 1,702mm, altura de 1,472mm e entre-eixos de 2,540mm
Tanque: 55 litros
Preço: a versão Allure custa R$ 56 mil no RS
Obs.: o carro não tem câmera de ré nem acionamento automático dos vidros quando do fechamento. Os principais itens de série são ar condicionado digital bi-zone; piloto automático, volante em couro, air-bags laterais, alarme, air-bags de cortina, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, tela multimídia de sete polegadas touchscreem e teto panorâmico. Com bem menos equipamentos, mas com o mesmo motor, o 208 Active parte de R$ 47 mil.
Impressões
Em relação aos antigos 208, não foi só o propulsor que melhorou. Suspensões e câmbio, dois itens que eram motivo de reclamação dos clientes, foram revistos. O resultado é que os engates ficaram mais fáceis, mas não dá para dizer que seja o ponto alto do Allure 1.2. Aos motoristas menos experientes, o painel sinaliza o melhor momento de trocar a marcha, visando economia e também segurança.
Quanto às suspensões, as traseiras são relativamente duras. Algo normal para um carro urbano que tem de enfrentar os mais diferentes pisos (quase sempre ruins) do Brasil. Nas curvas, elas funcionam muito bem. A ergonomia é um ponto que os franceses não abrem mão. E no 208, não é diferente. A posição de pilotagem é ótima, com fácil visualização de todos os pontos e várias regulagens de banco e direção.
– Não tem quem não volte encantado dos testes, principalmente por causa do motor. Numa época em que as pessoas estão priorizando economia de combustível, o carro cai bem no gosto do consumidor – garante o gerente da concessionária Avant Peugeot da Capital, Allison Wenzel.
A fama de carros que desvalorizam muito, de acordo com Wenzel, ficou no passado. Segundo ele, a montadora aposta, mesmo nos veículos não tão caros, em clientes diferenciados, que sabem enxergar (e valoriza) detalhes estéticos e mecânicos do veículo.