Sílvio Lopes, 72 anos, menciona seus principais pré-requisitos: disponibilidade e saúde. Aposentado há cinco anos, interessou-se pelo projeto-piloto 60+, parceria da Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA) com o Sebrae RS, para se capacitar como mentor na área de negócios. Após dois dias de formação, totalizando 12 horas, está habilitado a compartilhar experiências profissionais com pessoas mais jovens, prestando orientação em questões de trabalho.
Lopes é jornalista e economista. Sabe exatamente quantos livros já leu na vida: 2.556. Ao ritmo de dois ou três por semana, encontrou nessas páginas — fruídas, em boa parte, na Biblioteca Pública do Estado — a principal companhia para o período que se seguiu ao encerramento da carreira. Entretido, não sentiu o tempo passar. Achou interessante a oportunidade de mentoria, e o objetivo, agora, é colocar a maturidade e o repertório pessoal de vivências a serviço dos outros.
— Temos experiência, uma carreira toda, e não é bom que isso fique para nós. Quero ajudar as pessoas a acharem atalhos na vida — explicou, minutos antes do início do segundo dia de formação, na última terça-feira (3), na sede da ACPA, no centro da Capital.
Como principal ensinamento, Lopes pretende ressaltar a importância do olhar do indivíduo para si próprio:
— Não adianta ganhar a vida se não ganhar a sua vida. Se não conhecer a si mesmo, não adianta.
No grupo de 20 participantes, que puderam se inscrever gratuitamente, também estava a historiadora Suzana Porcello Schilling, 69 anos. No currículo, três décadas de sala de aula em instituições públicas e privadas e a autoria de diversos livros.
— Para escrever um livro, não é bem assim. Devo ter algumas competências. A gente ainda tem muito para instrumentalizar os jovens — disse Suzana.
Habituada à rotina solitária do historiador, que se dedica à análise de documentos, ela se mostrava feliz com a nova oportunidade.
— Tenho muito para ajudar, sim, para acrescentar. Foi com essa motivação que sentei novamente nos bancos escolares. Me sinto muito feliz — afirmou.
O instrutor da mentoria 60+, Marcus Ronsoni, doutor em psicologia social, destacou justamente a trajetória dos participantes do programa.
— Sempre tem coisas para trabalhar, sempre tem aprimoramentos a serem feitos, mas vocês têm uma bagagem muito grande para dar conta dos desafios todos — incentivou Ronsoni.
Os módulos do curso contemplaram áreas como faturamento, resultado, operações, marketing, finanças e recursos humanos, entre outros pontos. Os participantes passam, daqui por diante, a integrar um banco de mentores autônomos. Como contrapartida à qualificação recebida, oferecerão determinado número de horas de serviço sem custo a empresários interessados. A ideia é que mentores e mentorados possam interagir para identificar questões e problemas que precisam ser endereçados. A partir daí, o mentor criará um plano de ação. Futuramente, a iniciativa da ACPA e do Sebrae RS pode ganhar novas edições e avançar para cidades do Interior.
Presidente da ACPA, Suzana Vellinho Englert sentou lado a lado com os demais alunos para também cursar a formação. A ideia do programa surgiu a partir da constatação de que existem muitos profissionais de terceira idade com vasta experiência que não são aproveitados pelo mercado de trabalho. Convite para manter essas pessoas ativas, o 60+ serve como estímulo à autoestima.
— Queremos quebrar o paradigma de que o idoso não serve pra mais nada — falou Suzana.