Foi muito claro o recado do vice-presidente de futebol do Inter, João Patrício Herrmann, quando garantiu que o Inter não mudará de treinador, mesmo depois de sofrer uma goleada constrangedora de 5 a 1 diante do Fortaleza. Na mesma entrevista, porém, o dirigente admitiu que há a necessidade do técnico colorado conhecer melhor o ambiente futebolístico gaúcho e que providências são necessárias junto à comissão técnica. O intuito de ajudar Miguel Ángel Ramírez pode ser encarado simplesmente como um auxílio inerente à sua função, mas também soa como intervenção. Em ambos os casos, uma coisa está claro. O trabalho não está como era previsto, e a estabilidade de Ramírez sofre seu primeiro abalo.
Uma máxima do futebol brasileiro mostra que, quando um técnico está pressionado pela torcida, com resultados ruins de sua equipe, mas publicamente prestigiado ou defendido pelos dirigentes, ele na verdade está em situação muito delicada. O espanhol Ramírez não consegue executar seu projeto de jogo. O time colorado simplesmente não funciona do jeito que seu treinador prega. É visível uma dificuldade cultural no elenco. Para se adaptar ao novo estilo, o grupo precisará de um tempo que o clube não tem. Provavelmente seja isto que os dirigentes mostrarão ao comandante, escolhido ainda no ano passado de forma criteriosa pela nova direção.
Não está decretado que Miguel Ángel Ramírez não vai conseguir consolidar seu projeto de jogo no Inter, mas a situação não tranquila. Nitidamente ele tem a inexperiência como adversário, pois jamais viveu realidade parecida, seja na grandeza do clube, na pressão e no grau de exigência do torcedor. Os mais preconceituosos poderão até alegar também que os 36 anos de idade significam imaturidade.
Para a diretoria está lançado um desafio: intervir no vestiário, seguir deixando o treinador modificar time jogo a jogo em busca de um padrão, ou radicalizar, propondo uma troca? A última opção é mais do que pedida por torcedores exaltados e movidos pela carência de títulos. Para adotá-la, porém, é necessário se desapegar da ideia revolucionária que foi proposta, algo que não parece ainda fazer parte das alternativas da diretoria, pelo menos até quinta-feira (10), quando estará em jogo a vaga nas oitavas de final da Copa do Brasil contra o Vitória.