O palavrão proferido por Rogério Caboclo na recente reunião com dirigentes dos clubes da primeira e da segunda divisão, quando dizia que as competições nacionais não vão parar, pouco tem de relevante. Mesmo que detestável para ocasiões oficiais, o vocabulário chulo faz parte deste tipo de encontro e não é característica só do âmbito do futebol. A gravidade do que se tratou na ocasião e que teve áudios e imagens revelados pelo jornalista Venê Casagrande e pelo jornal O Dia está na maneira impositiva do mais importante dirigente do futebol brasileiro.
O presidente da CBF falou com autoritarismo absoluto. Sua negativa a uma sugestão dada pelo presidente do Palmeiras, Maurício Galliotte, é constrangedora como um rebaixamento. Na sequência, Caboclo recebe o afago com a concordância plena e elogios do presidente do Avaí. Nunca havia sido visto tão claramente esta faceta de Rogério Caboclo. Suas pausas, seu tom de voz, as frases intimidatórias mostraram uma semelhança incrível com a maneira de agir de um de seus antecessores, o ex-todo-poderoso Ricardo Teixeira.
É sabido e lógico que a CBF queira que o futebol prossiga. Existe necessidade financeira, como em todas as áreas da atividade no país. Há resultados razoáveis dos protocolos, embora alguns afrouxamentos perigosos nos acessos a estádios nas competições nacionais. Muita gente entra sem ser testada. O cuidado que se tem com jogadores e profissionais dos clubes não se tem com convidados e até com quem trabalha na área de apoio ou jornalistas. A questão, porém, está na ideia passada de que a autoridade do futebol pode mais do que as autoridades públicas. Não há Caboclo que mande mais do que prefeito ou governador. Chega a ser risível o fato do dirigente dizer que "a Globo quer" a continuidade do futebol. Vale lembrar que no ano passado o esporte parou e a televisão, bem como outros meios de comunicação que fazem cobertura esportiva acharam soluções.
Rogério Caboclo parece ter deixado cair uma máscara de diplomacia que havia em torno dele. Defender ideias, proteger a CBF ou o futebol brasileiro realmente é uma das atribuições de seu cargo, mas dentro dos limites. Constranger clubes, forçar situações contra as autoridades não está no cardápio de dirigentes, mesmo os mais importantes. Caboclo está rompendo a fronteira que o coloca como um cartola tradicional, daqueles que pareciam em extinção. Daí à tirania, é um curto passo.