Não existe nada contra os clubes brasileiros buscarem técnicos do Exterior. O Flamengo de 2019 foi a maior prova de que vale a busca de estrangeiros: Jorge Jesus patrolou adversários e ganhou o Brasileirão e a Libertadores. No Santos, Jorge Sampaoli fez um grande trabalho num vice-campeonato nacional, com muitos méritos. Há, porém, de se diferenciar quando a busca dos "gringos" se faz por convicção e quando acontece por modismo ou na base da exclusão.
O Inter foi convicto ao contratar Eduardo Coudet. O argentino não se completou no trabalho. Sob o seu comando, o clube não foi para a final do Gauchão e não venceu nenhum clássico Gre-Nal. Quando o desempenho melhorou, no Brasileirão, e foram reconhecidos méritos no técnico, ele preferiu sair, se sentindo desamparado por uma diretoria frágil.
Agora, uma nova administração entra no Inter e prepara-se para investir no espanhol Miguel Ángel Ramírez, treinador com pouca experiência e cujo currículo apresenta um título da Copa Sul-Americana dirigindo o Independiente del Valle, do Equador, em 2019. A juventude, ele tem 36 anos, e o fato de ser técnico de apenas um clube na carreira não desabonam em nada a aposta, mas permitem considerações.
Ramírez não tem nenhuma vivência de Brasil e se afirmou numa equipe muito especial em função do alto investimento feito e de pouca cobrança por parte da diminuta torcida. A diferença para o que pode encontrar no Beira-Rio é oceânica, a começar pela pressão vinda de todos os lados por resultados imediatos e títulos.
É possível garantir que poucos da nova diretoria colorada podem discorrer durante mais de 10 minutos sobre a obra de Miguel Ángel Ramírez no futebol e suas perspectivas no Inter. Da mesma forma, ninguém vai garantir que a adaptação do treinador será tranquila e imediata, algo que será indispensável se a chegada ainda prever a conclusão do Brasileirão. Talvez esteja no custo mensal o maior trunfo do técnico, que não deverá receber algo próximo dos nomes de ponta do futebol brasileiro.
Em vez da busca incerta no Exterior, o momento poderia ser de ousadia nacional no Beira-Rio. Antes mesmo de eliminar o Grêmio de maneira categórica na Libertadores, Cuca, técnico do Santos, já dava todos os sinais de ser alguém a ser tentado.
O treinador tem contrato com o clube paulista apenas até o final de fevereiro de 2021. Com uma situação totalmente instável pelos lados da Vila Belmiro, a renovação pode até ser tendência, mas não é certeza. Além dos méritos profissionais já demonstrados ao longo da carreira, o momento do comandante santista é mágico. Ele tem muitas das virtudes que serão necessárias para uma reconstrução colorada — a utilização de garotos com sucesso está aí para todos verem, bem como a utilização dos mais experientes e uma gestão perfeita numa realidade de pouco dinheiro.
De bom currículo e já tendo sido campeão da Libertadores, Cuca é profundo conhecedor da realidade gaúcha. Por certo, isto foi importante ao enfrentar o Grêmio e ter o resultado que teve na última semana. Além disso, ele sempre comentou que gostaria de voltar a trabalhar no Rio Grande do Sul, onde teve uma rápida experiência numa realidade caótica do Tricolor em 2004.
Sobre Cuca, é possível conversar mais de hora sobre sua carreira. Para trazê-lo, bastaria manter Abel Braga até o final do Brasileirão e fazer a troca junto com a mudança de temporada. Por certo, seria uma transição mais simples do que se desenha com um estrangeiro que pode ser considerado desconhecido, chegando no início da reta final do Brasileirão e tendo que apresentar serviço desde a primeira hora.