Há questões urgentes envolvendo a recuperação do aeroporto de Porto Alegre: o Rio Grande do Sul precisa que ele volte logo a funcionar. Por dezenas de motivos, que passam pela razão e pela emoção. Desde que a Fraport assumiu o Salgado Filho, ele atingiu um novo patamar. Transformou-se em um símbolo de eficiência e de crescimento. Por isso, quando a empresa alemã cogitou a possibilidade de abandonar a concessão, fiquei surpreso e preocupado.
A Fraport avisou que, caso não recebesse o que considera justo do governo, pensaria em ir embora. Filho e irmão de advogados, aprendi, ainda criança, que o aspecto jurídico é fundamental nas relações entre entes distintos, no caso, uma empresa privada e o governo. Mas o prisma das leis e da Justiça não é único. Ter razão não basta. Conheço empresas que venceram importantes batalhas judiciais enquanto suas marcas se esfarelavam.
A ameaça pública de ir embora de Porto Alegre foi, no mínimo, inadequada, no momento em que a cidade começa a juntar forças para superar o capítulo mais difícil na sua história. Ainda bem que houve uma correção de rota. Depois de uma reunião em Brasília, a empresa esclareceu que não cogita embarcar de volta para Frankfurt. Fiquei aliviado.
Feito o elogio ao reposicionamento da Fraport, vamos a uma outra camada da polêmica. O insucesso das negociações entre a empresa e o governo seria um prato quente para quem critica as privatizações e as concessões, que deram certo em tantos setores – as telecomunicações, por exemplo. Ouvi de um amigo com visão mais estatizante: “Se é para o governo pagar a conta, então melhor deixar lá uma estatal que, pelo menos, não ameaça ir embora”.
Para isso servem os contratos bem-feitos: para antever e sanar problemas antes que se transformem em litígios. Certamente, as respostas estão nas dezenas de páginas assinadas pela empresa e pelo governo. Agora, é trabalhar para que nosso aeroporto volte a funcionar o mais rapidamente possível. A Fraport, ainda bem, está ficando cada vez mais gaúcha. “Desistir” é uma palavra estranha ao nosso dicionário.