Desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos, Joe Biden já tropeçou ou caiu em público pelo menos cinco vezes. A mais recente neste mês, em uma cerimônia militar. É natural que os tombos de um dos homens mais poderosos do planeta virem notícia, mas a forma como isso ocorre é, em muitos casos, absurda. Ao longo da vida, o corpo e os sentidos vão se modificando, sempre. Aos 80 anos, as pernas e os olhos de Biden não são os mesmos de quando tinha 40. Parece óbvio, mas não é.
Vejo dois aspectos preponderantes nesse frenesi em torno do equilíbrio presidencial. O primeiro nada tem a ver com Biden. No tombo mais recente, alguém colocou um saco de areia no caminho. Talvez uma pessoa com 30 anos caísse também. De fato, calçadas, corredores e todos os espaços públicos de mobilidade deveriam pensar nos 60+. Não por pena, mas por obrigação.
Em outras ocasiões, porém, as quedas foram causadas por algo que tem a ver com Biden e com a cultura na qual estamos inseridos. Nitidamente, Biden quer parecer mais jovem do que é. Então, sobe escadas correndo e decide passear de bicicleta com a família não para se exercitar, mas para mostrar aos eleitores – e a sua equipe de marketing – que tem um tipo de força que não pode e nem precisa ter.
Conheço pessoas com mais de 85 que praticam esportes regularmente e que têm um vigor físico invejável. Mas uma das vantagens de envelhecer é perceber que tanto faz subir as escadas de um avião correndo ou caminhando. O piloto vai esperar, ainda mais se você é o presidente dos Estados Unidos. Biden ganhou, nas suas oito décadas de vida, algo de muito mais valor: experiência e maturidade, variáveis fundamentais na tomada de boas decisões. Talvez por isso tenha sido eleito, e não para tentar parecer mais veloz do que o Usain Bolt. Em segundo plano, mas não menos relevante, está o tratamento que as redes sociais e alguns veículos de comunicação dão aos tombos: deboche, risadas e piadinhas preconceituosas. Ainda encaramos essa postura com naturalidade. Pessoas com mais idade caem mais, mesmo quando não tentam se passar por adolescentes. Se eu pudesse, diria a Joe Biden: não tente parecer mais jovem, caminhe devagar e preste atenção nos obstáculos. Resumindo: ensine o valor da maturidade aos seus eleitores.