Começo explicando o que o texto a seguir não quer dizer: as denúncias sobre equipamentos ociosos em Porto Alegre são irrelevantes. Ao contrário. Quando o assunto é educação, qualquer esforço no sentido da melhoria deve ser aplaudido. Acredito, porém, que a existência de uma cozinha, de aparelhos de ar condicionado e de outros itens encaixotados está longe de ser o maior problema dessa área. O desleixo só comprova que o maior desafio da educação não é o financeiro, mas o de gestão. Por mais paradoxal que seja, a gritaria em torno da excelente reportagem de ZH e GZH pode acabar servindo, mais uma vez, como manobra diversionista.
Há muitos bons políticos no RS, realmente comprometidos com o futuro do Estado. Mas há alguns nada interessados pela educação e muito preocupados com a eleição. Porto Alegre paga um dos maiores salários de professores do Brasil, mas tem indicadores pífios na ponta do resultado. Seria bom investigar, isso sim, os porquês. Talvez as respostas fossem impopulares em redutos eleitorais bem cercados e consolidados. Educação é, acima de tudo, resultado, que precisa ser medido, apesar das tantas resistências reacionárias. Mais uma vez, esclareço o que não penso: que pagar bons salários não é importante. É fundamental, desde que haja uma gestão séria e focada no que realmente importa. Para isso, é urgente aperfeiçoar conteúdos e métodos didáticos, investindo na relação professor-estudante e mantendo distância das teorizações improdutivas e das ideologias emburrecidas.
No caso mais recente, o que seria uma boa oportunidade para discutir a gestão da educação em Porto Alegre se transformou, rapidamente, em disputa eleitoreira. Uma pena. É óbvio que a prefeitura precisa explicar o descuido com os livros e com os aparelhos de ar condicionado. Mas a gestão do almoxarifado é fácil e de rápida solução. Bastaria que alguns servidores percorressem os depósitos com planilhas nas mãos. Em uma semana, mudaríamos de assunto.
Mudar de assunto interessa pouco a quem quer deixar tudo como está. A essência da educação não é feita de ar-condicionado e de cozinha: é feita com método, salário, respeito, participação e, fundamentalmente, cobrança de resultados. Em resumo: é feita com gestão e transparência, palavras que assustam tanta gente, mas que deveriam ser cultuadas como o único caminho possível para valorizar professores, servidores e para atender o elemento central desse sistema: o aluno.