A Maya, um ano e sete meses, entrou naquela fase da paixão absoluta pela mamãe. A vantagem de ser um pai maduro, com outras duas filhas mais velhas, é que compreendo bem esse processo. Não me abalo. Sei que a minha hora vai chegar. Na verdade, já chegou, do jeito que tem que ser nessa fase da infância. Pela manhã, troco a fralda e preparo o café. Mais recentemente, adotamos o hábito de, abraçadinhos no sofá, curtirmos juntos uns 20 minutos de historinhas. A Galinha Ruiva é a favorita, no momento. Levo e busco, dou banho e faço dormir. Divido as tarefas, dentro do possível, com a Jaqueline. Mas, quando a mamãe Jaque está perto, não tem pra mim e pra ninguém. É bom que seja assim. Sei que isso muda depois, que os amores e afetos ganham novas formas, a partir da essência na qual investimos desde antes de ela nascer.
Na semana passada, fui buscar a Maya na escolinha. Feliz pelo reencontro, me ajoelhei e abri os braços para que ela viesse me abraçar. Maya me viu e, ato contínuo, perguntou: “Mamã?”. “A mamãe está em casa, nos esperando”, respondi, afetuosamente. Então a baixinha fez o que adora fazer. Em 10 segundos, mostrou tudo o que aprendera naquele dia. Dançou, imitou um elefante, amassou uma massinha de modelar que já tinha na mão e emitiu sonzinhos indecifráveis e lindos. Depois, saiu em disparada, rumo ao pula-pula. Eu permaneci ali, ajoelhado e de braços abertos, mantendo a posição, mas levemente desconcertado. Foi quando notei, perifericamente, um movimento inesperado. A Gigi, uma coleguinha da Maya que assistia à cena quietinha em um canto, veio correndo na minha direção, bracinhos abertos. E correspondeu ao meu pedido, até então frustrado, de abraço. Desmoronei de ternura por dentro. Quando a gente pede um abraço, pede para o mundo, aprendi na semana passada. E, de um jeito ou de outro, mais cedo ou mais tarde, o mundo nos atende.
A professora e a sua auxiliar, que viram a cena, riram e se comoveram. Eu também. Pouco depois, levei a Maya no colo para o carro. Então foi ela quem se grudou em mim, o mais forte que conseguia. Apertei-a contra o meu peito, reconfortado e feliz. Ao me abaixar para colocá-la na cadeirinha, ela pediu: “Poquínio, poquínio”. Sim, meu amor. Mais um pouquinho, mais muitos pouquinhos. Quando a gente pede um abraço para o mundo, às vezes, ele nos dá dois. Mas não basta pedir. Tem que abrir os braços. E querer.