Tenho pensado no Paulo Sant’Ana. Nos nossos cafés, para os quais eu era convocado, ele falava 90% do tempo. Era uma alegria. Quase sempre. Em alguns momentos, eu tinha que terminar meus próprios textos ou atender pessoas. Pablo vinha lá da salinha dos editoriais, parava a alguns metros da minha mesa e fazia o sinal de “vem” com o dedo indicador. Eu ia. Ai de mim. De fato, Pablo escolhia alguns sparrings para testar suas teses antes de publicá-las. Sentávamos no bar da Redação. Muitas vezes, antes da briga, o David Coimbra se juntava a nós. Noutras, o Diogo Olivier, o Wianey Carlet e alguns colegas, desde que aprovados pelo Sant’Ana. Passávamos alguns bons minutos salvando parte da humanidade. E condenando a outra.
Uma coluna não tem espaço para todas as memórias desses colóquios. Mas lembro de três ideias, expressas com absoluta convicção pelo meu interlocutor.
1) “Quando tiver uma opinião sobre futebol, insiste. Nunca desiste. Um dia os fatos vão te dar razão. Aí voltas ao assunto”.
2) “Aqui nesta terra de gente difícil, se eu não disser que eu sou um gênio, se eu não fizer propaganda de mim mesmo e me autoelogiar, ninguém vai fazer”.
3) “Quando os leitores e telespectadores não aguentarem mais ler e ouvir sobre um assunto, essa é a hora de continuar a bater na mesma tecla”.
Tenho encontrado o prefeito Sebastião Melo com alguma frequência. Nesta semana, foi no lançamento da nova temporada do Fronteiras do Pensamento. Melo me viu e disse: “Taí o homem das calçadas”. “Ainda bem que alguém me lê”, respondi, no mesmo tom ameno e divertido. Gosto do entusiasmo de Melo por Porto Alegre. Por isso, sigo no tema, inspirado pelo eterno Pablo.
Continuo recebendo e-mails e mensagens de pessoas que gostariam de voltar a transitar pela Capital, mas não conseguem. E ideias, muitas ideias de como tapar a buraqueira nos passeios públicos. Uma delas: a prefeitura notifica. Se o proprietário não arrumar, ela providencia o conserto e cobra a conta junto com o IPTU.
Uma vez, durante as Olimpíadas da China, fiz uma reportagem para a RBSTV sobre um parque cercado em Beijing, para delírio do Pablo, que comentou a história no Jornal do Almoço: “Se um país comunista cerca seus parques, porque a Redenção não?”. Hoje, se Pablo me chamasse para conversar, eu o provocaria. “As pessoas precisam primeiro chegar ao parque sem tropeçar, cair e quebrar a perna”. Talvez, na semana que vem, a gente fale mais sobre isso.