Era tudo ou nada. Os problemas técnicos ameaçavam o sucesso do projeto que prometia uma revolução no jeito brasileiro de votar. Nas últimas tentativas, a urna eletrônica falhara devido à umidade excessiva do ar, avaliaram alguns especialistas. De acordo com essa tese, a água inchava as bobinas de papel, que trancavam. Assim, não emitiam os boletins, fundamentais para a segurança do processo.
Em 18 de agosto de 1996, Caxias do Sul foi palco do maior teste, por isso definitivo, da nova invenção. A cidade, por pouco, não ficara de fora da lista dos locais onde haveria segundo turno e, consequentemente, voto informatizado. Só foi incluída devido a uma grande mobilização, que tinha entre suas líderes a ainda juíza Maria Olivier. Foi essa mobilização que garantiu as presenças de 5.310 mil eleitores que, com títulos fictícios, se dirigiram aos quatro locais de votação. Dessa vez, funcionou. E muito bem, com a vitória da candidata, também fictícia, Elis Regina (tabela abaixo).
Caxias já ostentava uma grande conquista tecnológica: a primeira transmissão de televisão em cores do Brasil, durante uma Festa da Uva, em 1972. Mais uma vez, os olhos do país estavam voltados para a serra gaúcha. Imprensa e autoridades de todo o Brasil lá desembarcaram para acompanhar de perto a votação e, principalmente, a apuração. Apesar do entusiasmo, notou-se a ausência do então presidente do TSE, ministro Marco Aurélio, que enviou ao Rio Grande do Sul o seu vice, o gaúcho Paulo Roberto da Costa Leite. Consta que Marco Aurélio não levava muita fé no sucesso da derradeira tentativa.
Um outro fato vinculava o Rio Grande do Sul ao espírito inovador da Justiça Eleitoral. O responsável pelo setor de Informática do TRE gaúcho, Jorge de Freitas, era um dos integrantes da comissão federal que trabalhava no projeto do voto eletrônico. Um quarto de século depois, outro gaúcho, Daniel Wobetto, secretário de Tecnologia da Informação do TRE, integra, em Brasília, o grupo que estuda o próximo salto tecnológico do voto. Alternativas como e-mail ou terminais remotos estão sendo estudadas.
Essas e outras histórias foram contadas durante a semana, em um evento virtual de celebração dos 25 anos da urna eletrônica, aberto pelo presidente do TRE gaúcho, André Luiz Villarinho e que contou com a presença, além das participações já citadas, do diretor-geral tribunal, Josemar Riesgo.
Na avaliação de Villarinho, qualquer tentativa de colocar em dúvida a credibilidade da votação eletrônica seria um retrocesso. Vai na mesma linha da afirmação feita em 1996, depois do sucesso do teste de Caxias, pelo então presidente do TRE Tupinambá Castro do Nascimento: “Esta data, 18 de agosto, marca o fim da corrupção eleitoral”.
O evento de segunda-feira passada foi um marco importante, no momento em que se coloca em dúvida a credibilidade da urna eleitoral, sem que exista, até hoje, qualquer prova ou sequer indício de fraude. Não há problema em questionar seja lá o que for, desde que as motivações sejam inspiradas pelo espírito democrático e pela vontade de aperfeiçoamento dos mecanismo de aferição da vontade popular. Não é que acontece, na maioria dos casos, nos recentes ataques ao sistema eleitoral brasileiro, que se transformou, desde agosto de 1996, em uma referência mundial.