É inacreditável que, enquanto empilhamos mortos, o prefeito de Porto Alegre e o governador do Estado não consigam se entender sobre o único assunto no qual deveriam convergir.
Sebastião Melo e Eduardo Leite poderiam se engalfinhar em debates sobre o formato da Terra, a política cambial, o paredão do BBB ou o destino do capitalismo. Mas quando o assunto é o combate à covid-19, não. Jamais. Em hipótese alguma. Porque a expressão dessa divergência, como tem sido percebida, é um dos motivos da escalada de internações e de mortes que transformaram Porto Alegre no epicentro de um desastre sanitário.
A lei, a definição de competências estabelecida pelo STF e as recentes decisões da Justiça indicam o caminho correto a ser seguido, de forma inequivocamente clara. Não é hora para politicagem e egos feridos, muito menos para afagos em setores radicais, seja de que lado estejam. Como cidadão, pai e jornalista tenho o dever de expressar minha convicção de que Sebastião Melo e Eduardo Leite têm o dever legal, moral e humano de comunicarem uma mensagem unificada à população, que assiste a dois dos mais relevantes homens públicos do Estado envolvidos em um bate-boca público enfeitado com palavras pretensamente suaves. Esse embate é fraqueza, não força.
Sebastião Melo e Eduardo Leite não estão em harmonia. Não estão se respeitando. Não estão felizes um com o outro. Não há problema em divergir, muito antes pelo contrário. Mas deveriam fazer isso em uma sala (virtual) fechada. Porém, quando estiveram no exercício da imensa responsabilidade a eles delegada pelo sagrado voto popular, impactando nas vidas de milhões de pessoas, sua responsabilidade é unir, somar, agregar. Para isso, é necessário grandeza, respeito à lei, à hierarquia e coragem para enfrentar reações e resistências. Precisamos de nossos homens públicos menos “eu” e muito mais “nós”.