Li todas as mensagens e e-mails que chegaram sobre a proposta de mudar o hino rio-grandense. Não saberia quantificar, mas foram muitas. A maior parte, contrária à ideia, o que não é pecado e nem, necessariamente, prova de racismo.
Dentre os aspectos que se destacam, um é especialmente revelador. A frase que mais li durante a semana foi "esse assunto não interessa", escrita dessa forma e de outras, menos elegantes. A um dos e-mails, respondi: "Se o senhor fosse tataraneto de escravos, como milhões de gaúchos e brasileiros são, talvez interessasse". Um outro leitor disparou: "... nosso Estado quebrado e tu falando nessa bobagem que não interessa". A ele, ponderei que a falta de interesse nesses e em outros temas talvez seja um dos motivos pelos quais nosso Estado está quebrado.
Depois, desisti.
Me dei conta de que o fenômeno não se resolve com uma resposta pretensamente afiada, que só alimenta o tom emocional da conversa, até que tudo vire um grande bate-boca.
É interessante constatar, porém, como fomos alterados pela lógica das redes sociais, nas quais estamos cercados por pessoas que pensam como nós e por ideias que convergem com as nossas. O resto, é só não seguir ou bloquear. Então, se não interessa para mim, não interessa para o mundo. Se o tema gera algum desconforto, é só apertar uma tecla e, instantaneamente, arremessá-lo a um calabouço virtual, profundo e sem volta.
Também há muita gente que, depois de ler, pensar e conversar, formou convicção sólida, seja ela favorável ou contrária à ideia. E isso reconforta. É também legítima a postura de, genuinamente, não se interessar pelo tema. Mas isso é bem diferente de achar — e gritar, esperneando — que escravidão, opressão, culpa e hino não devem debatidos porque "isso não me interessa". E até penso, com um certo alívio, que, se não interessasse de verdade, faria pouco sentido escrever e-mails, posts e mensagens, reclamando e xingando.