Ao lado da Saúde e da Educação, o transporte compõe a lista das três prioridades da gestão de Sebastião Melo na prefeitura da Capital, que começa no dia 1º de janeiro. "Vamos chamar as empresas para uma reunião na semana que vem", afirmou o prefeito eleito ao defender uma repactuação ampla das regras que hoje norteiam o funcionamento do transporte coletivo. "Vai ser uma negociação dura, mas que tem que ser feita", projeta. A pressa se justifica. O cálculo do reajuste da tarifa, previsto por lei para fevereiro, é um desafio gigantesco para a cidade. A queda do movimento durante a pandemia, a concorrência dos aplicativos e o maior acesso aos automóveis são fatores que ameaçam turbinar um índice de dois dígitos no reajuste, o que tornaria as viagens de ônibus da Capital impagáveis para a parcela mais pobre da população.
Outra proposta de Melo, essa de costura mais demorada e difícil, é a formação de uma espécie de SUS do transporte coletivo, um fundo com participação federal que inclua as capitais brasileiras.
Mas sempre, e mais uma vez, o futuro da Carris entra na pauta. Sebastião Melo tem afirmado a interlocutores que não considera justo que a empresa pública, que tem 22% das linhas, continue a receber repasses milionários. Distribuir esses recursos, cerca de R$ 6,5 milhões por mês, por todo o sistema, é uma opção ventilada, juntamente com o eventual desmembramento de algumas linhas hoje atendidas pela Carris, caso haja necessidade. Com isso, haveria um nível de subsídio, mas bem inferior ao que garantiria a estabilidade do preço da tarifa, que já é caro. Melo está disposto a privatizar a empresa, desde que haja comprador que pague um preço justo.
O prefeito Nelson Marchezan, que encerra sexta-feira seu mandato, até tentou enfrentar a questão, mas não teve apoio dos vereadores para iniciativas como taxação dos aplicativos e pedágios para carros de fora de Porto Alegre transitarem pelo Centro. "As soluções estavam na Câmara Municipal. Repassar recursos é a forma menos inteligente, fácil, paliativa e errada de resolver o problema do transporte público. A pandemia exigiu essa ação, que transformamos em social, mas foi uma exceção", avalia Marchezan. Nisso o atual e o futuro prefeito da Capital concordam. Tanto que Melo não descarta reenviar à Câmara, com adendos e modificações, algumas das propostas rejeitadas na gestão de seu antecessor.