Donald Trump e Jair Bolsonaro venceram as eleições nos EUA e no Brasil embalados, em boa parte, pelo "voto envergonhado". Milhões de pessoas marcaram seus nomes nas cédulas, mas não contaram para ninguém, nem para as pesquisas. O clima de polarização política inibe muita gente, que prefere não brigar e não se expor.
Esse fenômeno vai se repetir na eleição municipal. Há pesquisas sérias e bem feitas, mas elas têm um limite. A temperatura das redes sociais pode ser enganadora, porque meia dúzia fazem um barulho que parece de multidão. Uma ressalva óbvia, mas necessária em tempos de radicalismo: análise não é torcida. Leio, ouço, vejo os fatos e converso com as pessoas tentando compreender logicamente, sempre com o risco de errar e de menosprezar, sem querer, alguma variável importante.
Dito isso, faço a projeção: em Porto Alegre, o chamado voto envergonhado terá, dessa vez, um destino diferente: a esquerda. Isso não significa que o PCdoB e o PT vencerão a eleição. Mas esse é um fator que terá peso.
A capital dos gaúchos foi governada 16 anos pelo PT. O partido deixou aqui raízes profundas, que se enfraqueceram com as denúncias e as condenações por corrupção na Lava-Jato, mas não morreram. Demonizada por boa parte da opinião pública, a sigla não lançou candidato a prefeito. Vai com o vice de Manuela D'Ávila, que foi candidata a vice do PT na última eleição presidencial Que ninguém se iluda. Dizer que é petista e de esquerda pode não ser mais tão charmoso como era antes. Mas, na cabine inviolável, o eleitor entra mudo. E sai calado.