O assunto ganhou força depois que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso olhou para o passado e concluiu que mudar a Constituição para permitir a reeleição do presidente – ele, no caso – foi um erro. Talvez tenha sido, mas mexer novamente na lei será outro.
No Brasil, em vez de aprendermos e nos adaptarmos a uma regra, achamos mais fácil mudá-la. Desde que comecei no jornalismo, mais de 25 anos atrás, nunca houve duas eleições consecutivas regidas pelas mesmas normas. Muda o financiamento, a possibilidade de fiscalização, a propaganda. Sempre há algum fator novo a tornar obsoleta a regra anterior. Assim, punir quem a descumpre se torna mais difícil. Democracia precisa de tempo e uma lei só é completa quando a sua compreensão e a sua aplicação se consolidam.
Jair Bolsonaro foi eleito com possibilidade de reeleição. Mudar agora é um golpe não apenas contra o presidente, gostemos dele ou não, mas contra a democracia. Conviver com as consequências das nossas escolhas também faz parte do aprendizado. Mudanças na Constituição jamais podem estar atreladas a interesses imediatos, mas a princípios de longuíssimo prazo. Mudar a regra no meio do jogo é um atentado à regra, embora muita gente se esforce para justificar esse tipo de manobra antidemocrática e, por isso, perigosa.