Ouvi o colega Paulo Germano criticar, no Jornal do Almoço, a demora na reforma do segundo andar do Mercado Público de Porto Alegre. A observação, feita no contexto dos novos capítulos da novela da concessão, me fez pensar. Concordo que um dos nossos principais cartões postais e uma das mais queridas referência afetivas da cidade já deveria estar inteiro há horas. Lembro que em 2013, um dia depois do incêndio, ainda na gestão de José Fortunati, eu disse no Gaúcha Hoje, programa do qual era comentarista na época: "O problema é que a restauração vai demorar e nos acostumaremos com a imagem do prédio pela metade". Não era um desejo, mas uma constatação baseada na observação da realidade.
Agora, se o plano da prefeitura é conceder o Mercado a quem entende de administrar mercados, o que acho correto, não faria sentido gastar um pila a mais do que o estritamente necessário. E, nesse caso, a reforma deveria esperar, até para que os novos gestores pudessem fazê-la conforme seus planos estratégicos de longo prazo.
Se a vida no Brasil está judicializada e se os gestores públicos dependem cada vez mais dos tribunais para fazer seu trabalho, esse é um outro capítulo. Me lembro do próprio prefeito Fortunati, alguns anos atrás, falando sobre uma disputa judicial envolvendo obras em corredores de ônibus. "Um tribunal disse que eu tenho que fazer, o outro, que eu tenho que parar. A qual deles desobedeço?", desabafou.
Que o segundo andar do mercado espere pelo dinheiro privado, que quer desembarcar aqui, apesar dos tantos esforços para afugentá-lo. A prefeitura tem outras prioridades. Até lá, ao entrar em um dos mais belos e queridos prédio de Porto Alegre, seremos obrigados a nos lembrar da nossa própria incompetência para reformar o que precisa ser reformado.