A conta vem. Governos arrecadando menos e gastando mais, naquilo que não planejavam gastar. Antes da pandemia, boa parte dos gestores públicos eleitos pelo povo prometeu, nas campanhas, mexer nas estruturas dos governos. Nessa área, pouco se fez. Há boas iniciativas, mas, em geral, de Brasília ao menor município brasileiro, o que se vê são administrações ineficientes e caras, com excesso de ministérios e secretarias, empreguismo e estatais sucateadas. Qual é agora a prioridade dos gestores? Reforma tributária, é claro. Dar um jeito de buscar mais recursos, de fora para dentro. Porque mexer no vespeiro das corporações e dos apoios políticos em troca de “espaço de poder” é bem mais complicado. Reconheço a complexidade do desafio para não cair no discurso simplista de que a culpa é sempre dos governos. Há um sistema que engessa e no qual, muitas vezes e com as ferramentas disponíveis, é difícil mexer.
Difícil, mas não impossível. Numa lógica de respeito ao contribuinte, os governos deveriam, primeiro, cortar tudo o que de inútil carregam para depois estender seus tentáculos em direção aos bolsos das empresas e dos cidadãos. Ou, pelo menos, se comprometerem de verdade com uma reforma interna, a ser feita mais adiante. Essa não é uma receita única. Há visões diferentes sobre funções e tamanhos do Estado e, também por isso, há eleições. Para que as pessoas decidam sobre o caminho a ser seguido. Compreende-se, por exemplo, que um governo do PSOL não privatize ou corte determinadas estruturas. O que não se compreende é como, por exemplo, um governo que tem Paulo Guedes como ministro da Economia demore tanto para fazê-lo.
Me intriga como os governos, sejam eles de centro, esquerda ou direita, acabam ficando parecidos com o tempo. Desistem da briga interna, ou a tiram do topo das prioridades, para apostar no velho jeito compulsório de fazer as coisas: reorganizar, empacotar, mudar o rótulo mas, no fim, resolver o problema do governo tirando mais dinheiro de quem o produz. Pode chamar de nova CPMF, de recálculo do IPVA, revisão da planta do IPTU. Mas o princípio e o fim é sempre o mesmo. Um buraco sem fundo chamado contas públicas. Que ficou ainda maior com a pandemia.